Pelas projeções do Centro de Estudos Económicos da Fundação Getulio Vargas (FGV), a maior economia sul-americana cresceu 2,5% no último trimestre do ano passado após se ter expandido 7,7% no terceiro, encerrando 2020 com uma contração acumulada de 4,3%.
Essa projeção coincide com a dos cem economistas de mercado consultados semanalmente pelo Banco Central no boletim Focus, que na última edição também estimaram a queda da economia no Brasil no ano passado em 4,3%.
As projeções de retração da economia brasileira no ano passado variam do mínimo de 4,05% medido pelo Índice de Atividade Económica (IBC-Br), indicador utilizado pelo Banco Central para tentar antecipar a variação do PIB, ao máximo de 4,5% esperado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
A previsão mais otimista é a do ministro da Economia do país, Paulo Guedes, que, em entrevista a uma rede social divulgada hoje, afirmou que a economia "vai cair um pouco menos de 4%".
Em ambos os casos, a queda do PIB em 2020 será a maior dos últimos 25 anos e vai superar a retração de 3,5% que o país sofreu em 2015, quando enfrentou sua maior recessão em várias décadas.
O Governo pode anunciar na quarta-feira uma das maiores contrações económicas da história do Brasil porque, independentemente dos critérios de medição, os piores desempenhos anuais do país até agora foram os de 1990, quando a economia caiu 4,35%, e de 1981, com queda de 4,25%.
Segundo a FGV, quase todos os setores da economia encerraram o ano com queda acentuada na produção, com destaque para os serviços, responsável por quase 70% do PIB do país, com exceção da agricultura e da mineração, que foram favorecidas pelo aumento dos preços das matérias-primas, das exportações e da desvalorização do real.
Do lado da procura, o consumo das famílias, principal motor da economia brasileira, fechou 2020 com queda de 5,6%, segundo a última projeção da FGV, e foi salvo de um colapso ainda maior por uma ajuda mensal que o Governo distribuiu para 67 milhões de desempregados e pobres que foram duramente impactadas pela pandemia.
Embora não tenha mergulhado o Brasil numa nova recessão, a crise económica provocada pela covid-19, que paralisou as atividades por vários meses e reduziu o rendimento e o consumo dos brasileiros, interrompeu a recuperação que o país vinha a procurar desde a recessão de 2015 e 2016, quando o PIB brasileiro caiu cerca de 7 pontos percentuais.
Após as retrações de 2015 (3,5%) e 2016 (3,3%), o Brasil voltou a crescer em 2017, com avanço de 1,3%, e manteve uma tímida taxa de recuperação em 2018 (1,8%) e 2019 (1,9%).
Pelas projeções dos economistas consultados pelo Banco Central, a economia brasileira pode começar a recuperar em 2021, quando é esperado um crescimento de 3,47%, que será reduzido para 2,50% em 2022, 2023 e 2024.
Mas essa recuperação depende de o Brasil avançar na campanha de imunização contra a covid-19 e, finalmente, conseguir controlar a pandemia.
A recuperação neste ano dependerá também da redução das incertezas internas, pois o mercado teme que, face às pressões, o Governo abandone a sua política económica liberal e flexibilize os seus esforços para controlar o défice público do país.
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