Segundo o plano de insolvência entregue ao Tribunal de Comércio de Guimarães, os "vetores fundamentais" da proposta da Mabera passam por "manter a atividade da Coelima", "manter os postos de trabalho", "regularizar o passivo resultante dos créditos que venham a ser reconhecidos e verificados no processo" e "recuperar a confiança de fornecedores e clientes".
"O encerramento da atividade da empresa e a sua posterior liquidação arrastará para o desemprego os seus trabalhadores, o que constituirá foco de pobreza, instabilidade social e acréscimo de encargos para o Estado", considera a administração da Mabera -- Acabamentos Têxteis.
Na proposta apresentada, a Mabera sustenta que, "embora o mundo atual não permita restabelecer aquilo que foi o universo Coelima" -- criada em 1922 e uma referência entre os fabricantes de roupa de cama -- "o historial da empresa obriga a que tudo se faça para não deixar morrer a empresa e o que ela representa para a região e para o país".
"A empresa tem todas as condições para pagar aos seus credores em conformidade com um plano de insolvência, havendo toda a vantagem para os credores na manutenção da continuidade da atividade da empresa, assim garantindo os postos de trabalho e o emprego indireto que gera, a manutenção e evolução do seu volume de negócios e toda a envolvente que deles resulta", considera.
Neste contexto, e relativamente à dívida de 34,5 mil euros à Autoridade Tributária (AT), a Mabera propõe ao administrador de insolvência e aos credores o "pagamento de 100% do valor em 36 prestações mensais iguais e sucessivas".
Já quanto à dívida de 293,2 mil euros à Segurança Social, sugere a "inexigibilidade de juros, remuneratórios e/ou moratórios, vencidos e vincendos" e o "pagamento de 100% do valor de capital em 150 prestações mensais iguais e sucessivas".
No que se refere aos outros credores, propõe o pagamento de 2.600 euros, que diz ser um "valor superior a 11% do passivo indicado pela empresa (com exclusão dos créditos da AT e da Segurança Social), com perdão de juros, remuneratórios e/ou moratórios, vencidos e vincendos", quatro anos de carência e num prazo de 10 anos após finda a carência.
Dada a "necessidade de imediato fundo de maneio para garantir o cumprimento das necessidades correntes da Coelima, em especial o pagamento dos salários", a Mabera disponibiliza-se para libertar "de imediato" 250 mil euros, "na condição de que este valor seja considerado dívida da massa insolvente, [...] na eventualidade de não aprovação da proposta".
Para garantir o cumprimento do plano, a Mabera reclama a "desoneração de todas as garantias constituídas pela Coelima" (como hipotecas e penhor mercantil) "em favor de terceiros, nomeadamente às sociedades do grupo António de Almeida & Filhos e JMA Felpos e JMA SGPS".
Pretende ainda "a transmissão do capital dos atuais acionistas para a proponente e/ou pessoas individuais ou coletivas a indicar por ela" e a "cessação de funções de todos os órgãos sociais e nomeação de novos órgãos sociais pela proponente e/ou pelas pessoas individuais ou coletivas que venham a deter o capital social".
"O encerramento da atividade da Coelima e a liquidação da empresa arrastará consigo a perda de uma marca de referência nacional no setor têxtil, a pobreza da região e um acréscimo de encargos para o Estado. Entendemos, por isso, que a solução que permite a continuidade da empresa é a mais favorável aos credores", remata a administração da Mabera.
A proposta agora apresentada pela Mabera segue-se a duas outras já apresentadas nos últimos dias: uma por um consórcio de Guimarães composto pelas sociedades R.TL. e José Fontão & Cia; e a outra por um consórcio constituído pela Felpinter, de Santo Tirso, e a Mundotêxtil, de Vizela.
Em todos os casos é assumido o objetivo de recuperar e manter em atividade a Coelima e assegurar os cerca de 250 postos de trabalho existentes.
A Coelima -- Indústrias Têxteis apresentou-se à insolvência no passado dia 14 de abril, na sequência da quebra de vendas "superior a 60%" provocada pela pandemia e da não aprovação das candidaturas que apresentou às linhas covid-19.
"A empresa decidiu avançar com o pedido de insolvência, fruto da situação criada pela pandemia, que provocou uma forte redução das vendas e uma pressão sobre a tesouraria insustentável", adiantou, na altura, à agência Lusa fonte oficial da têxtil.
O anúncio da sentença de declaração de insolvência foi publicado em 22 de abril, com a empresa a apresentar um passivo de perto de 30 milhões de euros e cerca de 250 credores no final de 2020.
Entre estes, destacam-se a Caixa Geral de Depósitos (CGD) e o Fundo de Apoio à Concentração e Consolidação de Empresas (FACCE), que, no conjunto, "representam aproximadamente 80% do total do passivo extra grupo da Coelima, por referência a 31 de dezembro de 2020", segundo a Petição Inicial (PI), a que a Lusa teve acesso.
A CGD detém 42% do passivo, mais de 8,5 milhões de euros, enquanto o FACCE representa 38% do passivo, mais de 7,8 milhões de euros.
A têxtil de Guimarães integra o grupo MoreTextile, que em 2011 resultou da fusão com a JMA e a António Almeida & Filhos e cujo acionista principal é o Fundo de Recuperação gerido pela ECS Capital.
Depois da restruturação realizada ao longo dos últimos anos, a Coelima esteve perto de ser alienada em março do ano passado, mas a operação acabou por não avançar, num contexto de incerteza gerada com a pandemia.
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