"O que se está a passar com os veículos de conteúdos e outros meios de comunicação suspensos e/ou encerrados por força da mudança da legislação proposta pelo partido MPLA e seu Governo, com o respaldo da maioria qualificada no parlamento conseguida sabe-se lá como, é deveras lamentável num país onde o governo havia prometido promover 500 mil empregos em 2017", declarou Tchizé dos Santos à Lusa.
A operadora DSTv, detida pela sul-africana Multichoice, anunciou hoje que vai retirar da sua plataforma a Vida TV, um dos três canais suspensos desde abril por decisão do Governo angolano, que invocou "inconformidades".
A Vida TV já tinha comunicado internamente a decisão aos seus colaboradores anunciando que vai fechar portas em 31 de julho, deixando no desemprego mais de 300 profissionais, na sequência da rescisão do contrato com a DSTv.
"É muita gente no desemprego, equipas inteiras de jornalistas, apresentadores, pessoal logístico. Preferia que ficassem com o canal e mantivessem os empregos", lamentou.
Tchizé dos Santos garante ter cumprido o que estava estabelecido tendo em conta a legislação vigente na época em que o canal foi lançado (2018) e lamentou os "boicotes e perseguição financeira" por parte do Estado angolano.
"Foi mudada a lei propositadamente para obrigar todos os que quiserem emitir um canal de televisão passarem a ter que pagar aproximadamente um milhão de dólares norte-americanos, porém as leis e decretos não deviam ser retroativos e deviam ser respeitados os direitos adquiridos de quem já estava a operar à luz das regras anteriores", sublinhou.
Tchizé dos Santos, foi uma das investidoras iniciais da Vida TV, mas de acordo com uma fonte do canal, que pediu para não ser identificada, a filha do ex-presidente José Eduardo dos Santos foi convidada a sair do projeto poucos meses depois do início da operação, "por causa dos seus interesses pessoais e políticos".
"Nunca tivemos nenhuma contribuição da senhora, nunca ninguém a viu por aqui e ninguém estava a trabalhar sob a sua orientação ou agenda, basta olhar para o conteúdo produzido. Mas ficámos pelo caminho por causa dessa infeliz associação", disse a fonte, sublinhando que "quem aqui está [Vida TV], só queria trabalhar, não quer saber de política".
À Lusa, Tchizé dos Santos considerou que os seus sócios foram pressionados a afastá-la na altura, para poderem manter o canal.
"Hoje vê-se que nem isso bastou", comentou.
Questionada sobre se perdeu dinheiro com o investimento feito na Vida TV, a empresária respondeu que a Westside, em que detém 35% do capital, participou num investimento total de dois milhões de dólares, e a Semba (onde detém 25%) "investiu também a sua parte".
"Claramente, estou a ter um prejuízo financeiro e reputacional brutal, e a nível internacional", frisou, acrescentando que está à procura de oportunidades em Portugal.
"Estou extremamente triste e gostaria de poder começar um novo canal no mercado português onde também tenho ligações por razões familiares e não só", continuou.
Tchizé dos Santos salientou que o "mundo dos negócios é global": "Eu hoje busco oportunidades no ramo da comunicação em Portugal, Moçambique, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau e São Tomé, porque produzo conteúdo em língua portuguesa".
Tchizé dos Santos é atualmente influenciadora digital e criou um canal de Youtube chamado "Lifestyle em Português".
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