Venezuela: Economistas ligam hiperinflação a fracasso económico

Vários economistas venezuelanos atribuíram hoje a decisão da Venezuela de eliminar seis zeros ao bolívar soberano ao fracasso económico do Governo do Presidente Nicolás Maduro, advertindo que a hiperinflação continuará no país.

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Lusa
05/08/2021 23:59 ‧ 05/08/2021 por Lusa

Economia

Venezuela

 

"Primeiro foi o bolívar forte, depois o bolívar soberano e agora o bolívar digital. É uma sequência do fracasso da política económica, maquilhada com a eliminação de zeros", disse José Guerra aos jornalistas.

O economista e ex-deputado opositor sublinhou que é também o resultado "de um Banco Central de Venezuela (BCV) que destrói a sua própria moeda e agora inventa outra".

Por outro lado, o decano da Faculdade de Economia da Universidade Católica Andrés Bello (UCAB), Ronald Balza, adverte que uma reconversão monetária, sem estar acompanhada de um plano de disciplina fiscal "não corrige nenhum dos problemas básicos" da economia local.

Segundo Balza, a reconversão "é necessária para simplificar as transações eletrónicas, mas pouco efetiva para resolver a origem da hiperinflação".

"Em agosto de 2018 foi feita uma reconversão que se perdeu com a hiperinflação. O processo de reconversão tem custos (para os comércios e bancos na adaptação dos sistemas) que têm de ser suportados quando se supõe que o problema de fundo se resolverá. Isto é como limpar o chão sem reparar a goteira (fuga)", disse o decano da UCAB.

 Ronald Balza insta o BCV e o Instituto Nacional de Estatísticas da Venezuela a divulgar as estatísticas e o orçamento de Estado. Também a adotar medidas de disciplina fiscal para travar a inflação, e a abrir um espaço transparente para os investimentos no país sem o secretismo nas contratações públicas admitido pela Lei Antibloqueio.

Por outro lado, o professor titular do Instituto de Estudos Superiores de Administração (IESA)  Urbi Garay justifica a reconversão porque "os valores em bolívares são estratosféricos e já não cabem nas máquinas de calcular".

No entanto sublinha que o chavismo já eliminou 14 zeros da sua moeda (3 no ano 2008, 5 em 2018 e agora 6 em 2021) e que há 150 anos (em 1871) a Venezuela criou o seu primeiro cone monetário.

"A Venezuela está perto de atingir o recorde mundial que possui o Zimbabué, país que eliminou 25 zeros da sua moeda em várias reconversões", sublinhou.

Por outro lado, para o conhecido economista Luís Oliveros, o anúncio da reconversão "só pode ser uma boa notícia para as empresas e a banca, porque fará mais fácil a contabilidade", mas adverte que "não acabará com a hiperinflação que afeta o país desde há quatro anos".

"A reconversão em si é uma amostra do fracasso da estratégica anti-inflacionária do Governo", frisou, precisando que a Venezuela "é o segundo país com a hiperinflação mais longa da história".

Este economista considera que é importante que o BCV atualize também os dados macroeconómicos do país.

O Banco Central da Venezuela anunciou hoje que vai eliminar seis zeros ao bolívar soberano, a moeda local, a partir de outubro, mês em que colocará em circulação o novo bolívar digital.

"A partir de 01 de outubro de 2021, o Bolívar Digital entrará em vigor, aplicando uma escala monetária que elimina seis zeros à moeda nacional. Ou seja, todos os valores monetários e tudo o que se expressa em moeda nacional vai ser dividido por um milhão (1.000.000)", explica um comunicado do BCV.

O BCV detalha que "conviverão o bolívar físico (notas e moedas) e o bolívar digital" como expressão da economia venezuelana e que a taxa de câmbio (cotação) "continuará a ser determinada pelo Sistema de Mercado de Câmbio da Venezuela e calculada com base nas transações cambiais realizadas por indivíduos e empresas através das mesas de câmbio dos bancos".

"A introdução do bolívar digital não afeta o valor da moeda, ou seja, o bolívar não terá mais ou menos valor, apenas a facilidade de utilização está a ser levada a uma escala monetária mais simples", explica-se ainda no comunicado.

Em 2008 a Venezuela eliminou três zeros ao bolívar e introduziu o bolívar forte (BsF). Em 2018 eliminou cinco zeros à moeda e lançou o atual bolívar soberano (BsS).

Em 2020 a inflação anual na Venezuela, segundo o BCV, foi de 2.959,8%, um valor inferior aos 3.713% apontado pela oposição.

 

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