"A recuperação está a consolidar-se, no entanto a pandemia [de covid-19] pode ter consequências económicas persistentes e o apoio orçamental não deve ser retirado prematuramente", pode ler-se no Inquérito Económico da OCDE sobre a zona euro divulgado hoje.
A organização sediada em Paris, que aponta para 4,3% de crescimento do PIB da zona euro este ano, adverte que em alguns setores "a pandemia pode enfraquecer a procura longamente e o desemprego pode permanecer alto durante mais tempo".
"Além disso, disrupções ao sistema de educação podem afetar o capital humano de gerações futuras, afetando negativamente o crescimento futuro", assinala a OCDE.
No documento hoje publicado, a organização considera que dados estes desafios, "as decisões políticas europeias não devem ser complacentes quando a crise sanitária acabar".
"A política orçamental deve continuar a apoiar os setores afetados até à recuperação estar firmemente estabelecida, evitando consolidações prematuras", adverte a organização liderada por Mathias Cormann desde junho.
A instituição releva também que uma recuperação duradoura "vai necessitar da conclusão de uma agenda de reformas ambiciosa, e seria apoiada por reformas à arquitetura económica da união monetária".
Neste sentido, a OCDE considera relevante a avaliação do atual modelo orçamental da zona euro, com a criação de "novas ferramentas orçamentais para crises", com "a sua avaliação a alimentar o debate sobre a conclusão da união monetária".
"A crise da covid-19 coloca novos desafios ao atual modelo orçamental", pelo que o objetivo deverá ser "assegurar a melhor sustentabilidade das finanças governamentais, políticas contracícilicas suficientes e maior responsabilidade".
A OCDE entende que a "prudência orçamental pode ser encorajada através do fortalecimento do envolvimento de instituições orçamentais independentes, do fomento de modelos orçamentais de médio-prazo e da consideração de incentivos positivos".
A OCDE também levanta o tema da integração orçamental entre os vários países, considerando-a "chave para reduzir a divergência nos ciclos de negócios e fortalecer a estabilidade da zona euro em caso de choques".
Quanto à política monetária, a OCDE considera que deve permanecer acomodatícia "até à inflação convergir de forma robusta com o objetivo do BCE [Banco Central Europeu]".
A organização multilateral também prevê que o fortalecimento do mercado único para os capitais "irá reduzir o risco de fragmentação financeira", observando ainda que "mercados de trabalho mais resilientes aumentam a capacidade da economia absorver choques e acelerar a recuperação".
Na integração da zona euro, a OCDE denota também que "o sistema bancário europeu ainda não está totalmente integrado", algo que contribuiu precisamente para a "fragmentação financeira e divergência económica" depois da anterior crise.
A organização alerta que "os depósitos nos bancos da zona euro estão vulneráveis a choques em países individuais", apelando à conclusão da união bancária, acrescentando ainda que deve ser fortalecido "o modelo europeu para lidar com o crédito malparado".
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