Alterações das regras em Macau vão "esmagar margens" de casinos
O analista sénior Edward Moya, da corretora Oanda, considera que as alterações legislativas na operação de casinos em Macau "vão esmagar as margens e todo o crescimento" que os operadores norte-americanos antecipavam
© Reuters
Economia Macau
"É muito negativo para as ações dos casinos americanos", afirmou o especialista, depois de uma queda arrasadora dos títulos em bolsa por causa do processo de revisão da legislação pelo governo chinês.
"O que começamos a ver é o aumento do receio de que a repressão do governo chinês sobre vários sectores seja sentida com mais força nas ações do jogo", indicou Edward Moya, refletindo o nervosismo dos investidores que levou a perdas superiores a 18 mil milhões de dólares em bolsa.
O analista chamou a atenção para a importância que Macau teve no crescimento dos casinos norte-americanos que têm licença para operar naquela região administrativa especial, nomeadamente Wynn, MGM e Sands.
"Temos de olhar para o quão dependentes os casinos norte-americanos estavam das receitas provenientes de Macau. Antes da covid, Macau era responsável por 70% das receitas totais do Wynn Resorts e Las Vegas Sands", afirmou.
Agora, com as licenças a expirar em junho de 2022 e um plano governamental para alterar as regras, no contexto de uma pandemia global, o horizonte é volátil.
"O governo chinês está a questionar a forma como permitiu a Macau liberalizar a indústria do jogo", analisou Edward Moya, referindo que as empresas americanas estão a encaixar cerca de 50% das receitas. O analista antecipa que a nova legislação irá conter incentivos para os investidores fazerem mais pela comunidade e ajudarem a fazer crescer o turismo, privilegiando os operadores de jogo domésticos.
No entanto, Moya não antecipa uma não-renovação das licenças. "Os casinos norte-americanos vão perder algumas das vantagens que tinham na legislação anterior, mas não vão ser escorraçados", afirmou.
Com um período de consulta pública de 45 dias no processo de revisão da legislação, a expectativa é de que a volatilidade nos mercados financeiros se mantenha elevada para os operadores de casinos.
Além disso, as perspetivas de recuperação das receitas em 2021 estão a ser goradas, visto que Macau ainda tem muitas restrições em vigor.
"Quando olhamos para o regresso à normalidade, isso não está a acontecer em Macau. Tiveram uma estratégia de covid zero no último ano e meio e na essência as fronteiras estão fechadas", explicou Moya. O analista salientou o problema de as vacinas administradas no país terem menor eficácia, o que não permite perspetivar um alívio da situação.
"Os receios sobre o crescimento estão a aumentar na China, e isso não é bom para a Wynn, Sands ou MGM. A incapacidade de ultrapassar a covid e dar mais explicações sobre como os casinos poderão assegurar lucros vai manter a dívida sobre pressão", sublinhou.
Há, também, um receio mais alargado em relação a outros sectores na China, espelhando as medidas que o executivo chinês tem anunciado.
"O presidente Xi [Jinping] está a tentar atacar os excessos capitalistas. Estão a reprimir os videojogos, há tantas orientações novas a saírem que é muito difícil para um investidor estrangeiro manter-se confiante na aposta na China", explicou o analista.
Estas dúvidas não existiam há três ou seis meses, quando Wall Street se mantinha confiante de que o maior crescimento da próxima década viria do país asiático.
"Agora, as pessoas estão a levantar essa questão e não têm a certeza, e isso levará à perda de investimento na China", previu Edward Moya.
Se a repressão sobre vários sectores continuar, os investidores vão querer "evitar um risco sistémico" e deixar planos de investimento em suspenso. A esperança dos investidores é que no próximo ano o executivo queira ver a economia chinesa a ir na direção certa e a repressão comece a desvanecer-se.
Ainda assim, a tensão entre os Estados Unidos e a China está elevada, sendo que não houve progresso feito com a administração de Joe Biden.
"É possível que esta também seja uma jogada política", considerou o analista da Oanda.
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