PRR: Sintab critica indústria cervejeira por desrespeitar trabalhadores
O Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura e das Indústrias de Alimentação e Bebidas (Sintab) criticou hoje a indústria cervejeira por se estar a posicionar para receber fundos da 'bazuca' europeia quando apenas valoriza o lucro, em detrimento dos trabalhadores.
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Economia PRR
"Por estes e muitos outros motivos, entendemos que as futuras decisões de distribuição das verbas do PRR [Plano de Recuperação e Resiliência] deverão estar sujeitas a muito mais do que os números, tantas vezes adulterados", sustenta o Sintab em comunicado.
Defendendo que "as carências da economia e a necessidade de reforço da produção nacional exigem muito mais sobriedade na distribuição dos fundos, que pertencem aos contribuintes e que, por isso, devem ser investidos na valorização das suas condições de vida", o sindicato garante que estará "atento à equidade da orientação dos 'tiros da bazuca financeira', rejeitando claramente que se destinem a quem não respeita os seus trabalhadores".
"Estarão aptos para a boa utilização destes recursos os conselhos de administração que sonegam a valorização dos salários aos seus trabalhadores, para aumentar os lucros dos seus donos?", questiona.
"Terão boa capacidade de gestão de dinheiros públicos os gestores e administradores que discriminam trabalhadores com salários diferenciados em função do género ou área onde vivem?", pergunta.
No comunicado hoje divulgado, o Sintab denuncia as "exemplares ações de propaganda visual, assente numa particularíssima escolha de números", em que nas últimas semanas "o corporativismo empresarial que reúne as grandes cervejeiras nacionais se tem empenhado".
Para o sindicato, trata-se de um "tão apurado, quanto enganador, exercício de moldagem da opinião pública, com claras intenções de ocupação de espaço privilegiado na meta de partida para a corrida ao dinheiro da 'bazuca' europeia".
Contudo, denuncia, o facto é que as "iniciativas de exaltação do setor" e os "estudos recentemente encomendados a preceito [...] apenas transmitem um ponto positivo e valorizável", que não se estende à vertente social do setor cervejeiro.
"A indústria cervejeira tem desempenhado, de facto, um papel preponderante na dinamização da economia nacional, acima de tudo pela incidência das particularidades da carga fiscal aplicada às bebidas alcoólicas", reconhece.
"Só que, infelizmente, -- acrescenta -- esse vigor não se alastra para a valorização direta da economia de base, por nunca se projetar positivamente quer no poder de compra, quer nas condições laborais e sociais dos trabalhadores do setor, e ter contribuído acima de tudo para o acumular de riqueza nos bolsos dos acionistas".
Segundo sustenta o sindicato, as "imagens coloridas que realçam a produtividade do setor não combinam com o contínuo ataque à contratação coletiva e aos salários".
Por outro lado, as "vinhetas publicitárias aprimoradas para as redes sociais" dão "enganadoramente conta da geração de postos de trabalho", quando o facto é que "se referem aos que existem desde há décadas e cuja tendência descendente se acentuou nos últimos anos".
Paralelamente, denuncia, assiste-se a um "aumento exponencial do recurso à terceirização de serviços e áreas de trabalho", com a "consequente precarização dos vínculos contratuais dos trabalhadores do setor".
"As grandes empresas do setor, como a Super Bock, a SCC-Heineken ou a Font-Salem, têm nos últimos anos encetado fervorosos ataques aos trabalhadores, quer pela tentativa de embaratecimento do seu trabalho, quer pelo esvaziamento da contratação coletiva", acusa.
No caso da SCC-Heineken, diz, "os trabalhadores da rede nacional de distribuição não foram incluídos na centralização que a empresa promoveu no ano passado e, além de serem pressionados a cumprir com um regime ilegal de banco de horas que a empresa lhes impôs, sofrem ainda uma discriminação salarial geográfica, que se revela inconstitucional e representa um retrocesso civilizacional de quase um século".
Já na Super Bock, o Sintab denuncia que "os trabalhadores foram pressionados para baixar o valor do trabalho prestado em laboração contínua, num processo que envolveu pressões diretas e decisões de gestão prejudiciais ao próprio negócio, com vista à criação de um ambiente tão pesado que levasse à exaustão".
Já este ano, o sindicato acusa a administração da Super Bock de transformar "o processo negocial num ensaio de tumulto organizacional com vista à inexistência de acordo final, com comportamentos e discursos totalmente incoerentes, típico de quem se apresenta apenas dirigido aos números e nunca ao bem-estar dos seus trabalhadores".
"Efetivamente, foi também na Super Bock que, este ano, se optou por rasgar um acordo assinado por altos quadros diretivos e representantes de uma renomada casa de advogados, debaixo da chancela do Ministério do Trabalho, enviando para o desemprego trabalhadores com quem se haviam comprometido à integração no quadro de efetivos, somando-os à cerca de uma centena que optaram por rescindir o seu vínculo contratual depois da ameaça de despedimento coletivo que não tinha enquadramento algum", sustenta.
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