"A nível global, os riscos de estabilidade financeira parecem contidos por enquanto,", refere o FMI num relatório hoje divulgado sobre este tema, considerando contudo que esses riscos são maiores em países emergentes e economias em desenvolvimento, onde o crescimento dos criptoativos(como criptomoedas, caso da Bitcoin) e da finança descentralizada ('decentralized finance' na expressão em inglês, serviços financeiros sem intermediários centralizados) tem sido mais significativo.
Para o FMI as tecnologias ligadas a ativos criptográficos poderão ser uma importante ferramenta para que os serviços financeiros internacionais sejam mais rápidos e baratos, como pagamentos e depósitos (o que porá em causa o papel da banca tradicional).
Contudo, considera que o rápido crescimento também representa desafios, tendo em conta a sua dimensão (a capitalização do mercados dos criptoativos cresceu significativamente e atingiu 2,5 biliões de dólares no início de maio, apesar das suas grandes oscilações e de depois ter desvalorizado fortemente), ainda que esteja abaixo das dimensões de outros ativos (como dívida soberana) e que os episódios de perda confiança nos criptoativos tenham tido poucos efeitos no resto dos mercados financeiros.
Quanto ao que devem as autoridades fazer para vigiar e controlar este mercado, a não existência de intermediários centrais e o facto de este ser um mercado fragmentado e com dados pouco confiáveis complica a ação das autoridades, segundo o FMI.
Defende o FMI que sejam definidos padrões de regulação global, desde logo no âmbito do G20, o que mitigaria riscos para a estabilidade financeira global.
Contudo, devem também as autoridades salvaguardar que o quadro regulamentar é flexível para se adaptar às mudanças que o futuro trará, avisa.
Ações fortes como banir estes ativos não são eficazes, considera o FMI, porque continuarão a ser transacionados em meios alternativos. O importante é que as jurisdições tenham regulação adequada e coordenada para maximizar os seus efeitos.
A adoção de criptoativos tem sido maior nos mercados emergentes e em países em desenvolvimento do que nos países desenvolvidos, refere ainda o relatório hoje divulgado.
Em meados deste mês, a China declarou ilegais todas as transações de moedas virtuais no seu território.
Em relação às causas que levaram o banco central chinês a agir contra as criptomoedas, especialistas contactados pela agência de notícias EFE apontaram várias, entre as quais o controlo da economia pelo governo da China, a ausência de liberdade no país e a implementação da moeda digital pelos bancos centrais.
Segundo sócia-gerente da Blockchain Intelligence, Almudena de la Mata, não é surpreendente que as criptomoedas provoquem uma reação adversa de alguns bancos centrais, uma vez que "'blockchains' públicas e as suas criptomoedas são sistemas alternativos de troca de valor que fogem em grande parte do controlo das estruturas de poder tradicionais".
Almudena de la Mata avaliou ainda uma potencial relação entre a medida e o desenvolvimento das moedas digitais dos bancos centrais e alertou que uma batalha geopolítica interessante, devido à evolução das criptomoedas, uma vez que se perspetiva "uma competição pela hegemonia monetária na era das moedas digitais emitidas por bancos centrais".
O Banco central da China, o Banco Central Europeu (BCE) e a Reserva Federal (dos Estados Unidos) são dos grandes bancos centrais mundiais que trabalham no sentido de lançarem as suas criptomoedas.
Em 07 de setembro, El Salvador tornou-se o primeiro país no mundo a reconhecer o uso da Bitcoin como moeda legal, sem restrições. Qualquer agente económico tem de a aceitar. O uso da Bitcóin é dos principais projetos económicos do presidente, Nayib Bukele.
As políticas de Bukele (alterações na Constituição, duplicação dos efetivos militares, mas também a adoção da Bitcoin) têm levado a fortes manifestações nas ruas do país da América Latina.
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