Apesar do "sufoco" em que relata que estes profissionais estão a trabalhar nos últimos meses, o presidente da Associação de Taxistas da ilha de São Vicente, Belarmino Lima, afirmou à Lusa que não podem aumentar a tarifa do transporte para não perderem passageiros.
"É preocupante para nós porque quando o preço do combustível aumenta e não conseguimos mexer na tabela de preços, o peso fica todo sobre nós, os taxistas. Ainda não estamos a pensar no aumento do frete devido à subida do preço dos combustíveis, apesar de sofrermos e estarmos a ser penalizados", apontou Belarmino Lima.
O preço do frete em São Vicente mantém-se há vários anos inalterado, nos 150 escudos (1,35 euros) no período diurno e 170 escudos (1,55 euros) à noite, dentro da cidade do Mindelo, tabela que a associação destes profissionais, com 230 taxistas inscritos, pede há muito para ser reajustada.
"Já há alguns meses que enviamos à Câmara Municipal de São Vicente um pedido de ajustamento do preço das tarifas de fretes, mas nunca houve resposta da autarquia", lamentou o responsável.
Contudo, se a situação continuar a agravar-se, num período de forte crise económica, ainda sem retoma da procura turística na ilha devido à pandemia de covid-19, os taxistas de São Vicente pretendem reunir e definir estratégias para conseguirem sobreviver, como um aumento "simbólico" nas zonas mais afastadas.
"É um pequeno ajustamento, sem muita alteração porque o preço atual já é motivo de reclamação por parte de algumas pessoas, imagina agora se aumentarmos muito mais. Seria um problema ainda mais grave, porque diminuiria o número de passageiros", admitiu Belarmino Lima.
Com muitas reclamações que diz colecionar na associação, e pelo "mau ano" que vivenciaram em 2020, devido à pandemia, o representante dos taxistas de São Vicente lamenta que quando a situação começa a melhorar, os preços dos combustíveis sofra fortes aumentos, condicionando a atividade.
Segundo dados da Agência Reguladora Multisetorial da Economia (ARME), no espaço de um ano, até setembro de 2021, a variação média do preço dos combustíveis em Cabo Verde correspondeu a um aumento de 48,2%, acumulando ainda um aumento de 13,8% desde o início de 2021, o que afeta transversalmente o setor dos transportes no arquipélago, totalmente dependente da importação de combustíveis refinados.
Na ilha de Santiago, a mais populosa, o Sindicato Nacional de Condutores Profissionais (Sincop) chegou a anunciar aos passageiros, unilateralmente, aumentos nas tarifas interurbanas a partir de 15 de outubro, afetando sobretudo as viagens até à capital, a cidade da Praia.
Contudo, depois de a ARME ter chumbado a medida, por ser a única entidade com competência para fixar o regulamento tarifário, estes profissionais voltaram atrás e anularam a decisão.
O regulador anunciou, ainda assim, que já enviou ao Governo, "para aprovação", uma proposta de revisão da legislação em vigor, sem adiantar mais pormenores.
"A ARME espera, a muito breve trecho, ver entrar em vigor esse novo diploma legal, o qual, com certeza, irá permitir concluir o Regulamento Tarifário e a fixação dos preços dos serviços de transportes coletivos e interurbanos de passageiros, em moldes mais claros e bem definidos", lê-se num comunicado da entidade reguladora do setor.
Segundo o presidente do Sincop, Domingos Tavares, desde 2007 que não há atualização nestas tarifas em Santiago, situação agravada nos últimos meses com o aumento do preço dos combustíveis.
"Tudo está a subir e os condutores têm uma reivindicação justa de aumento de salário, mas o proprietário não tem condições para fazer essa atualização salarial", afirmou, reconhecendo que o aumento unilateral de tarifas, decidido no início do mês, tinha sido concertado entre proprietários das viaturas e motoristas.
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