Principal acionista da central do Pego não desiste de reconversão
A Trust Energy, principal acionista da Tejo Energia, "não desistiu do projeto" de reconversão apresentado ao Governo para a central do Pego, em Abrantes, que deixou de produzir a partir do carvão, disse à Lusa o presidente executivo.
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Em declarações à Lusa, José Grácio, presidente executivo da Trust Energy, disse hoje que a central "permanece à disposição da rede elétrica nacional para produzir energia até 30 de novembro", data que o Governo fixou para o fim do ciclo a carvão nesta unidade instalada em Abrantes (Santarém), a última existente no país.
O gestor lembrou que a Tejo Energia, consórcio constituído pela TrustEnergy (Engie e Marubeni), que detém 56%, e pela Endesa (com 44%), propôs ao Governo iniciar, logo após o fim do ciclo do carvão, um processo de conversão da central para um "cluster" de energias verdes, mantendo todos os postos de trabalho.
"A Tejo Energia apresentou um [novo] projeto ao ministro do Ambiente em julho, como combinado, e ele nunca se pronunciou sobre o mesmo. Nunca explicou porque mudou de ideias e decidiu avançar para um concurso público, a quatro meses da data determinada [para o fim do carvão]. As explicações iniciais, de que havia um desentendimento entre os acionistas, não têm sentido", disse José Grácio, que deu conta que "a empresa não desistiu do projeto".
O projeto da TrustEnergy, apresentada em julho ao Governo, passa por reconverter a central a carvão do Pego num Centro Renovável de Produção de Energia Verde, projeto que, de forma faseada, implicaria um investimento de 900 milhões de euros, anunciou à Lusa a empresa, em maio passado.
A TrustEnergy "entende que a melhor opção não será o desmantelamento da estrutura, mas o desenvolvimento de um ambicioso projeto de transição justa da Central Termoelétrica do Pego para um Centro Renovável de Produção de Energia Verde nas suas várias formas", disse José Grácio.
O presidente executivo da TrustEnergy explicou que o projeto do qual a empresa não desistiu passa pela "eletricidade, hidrogénio e outros gases renováveis a partir de diversas fontes primárias de energia local, como a solar, eólica e resíduos florestais".
Este projeto, que a empresa quer implementar com apoios do Fundo para um Transição Justa (FJJ) e do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), e aos que disse então que se iria candidatar, "constituirá um caminho sustentável e de futuro" e visa "transformar uma ameaça", que seria o encerramento da central, "numa grande oportunidade para a região e para o país", com a sua reconversão funcional em Abrantes.
A Central Termoelétrica do Pego é o maior centro produtor nacional de energia, com uma potência instalada de 628 megawatts (MW) na central a carvão, e de 800 MW na central a gás, que prosseguirá em atividade, com contrato válido até 2035.
Apesar de renovada tecnologicamente há poucos anos para ser menos poluente, e mesmo com a subida galopante dos preços da energia (no mercado ibérico subiu, em menos de um ano, de 30 euros por MWh para 281 euros), o Governo manteve a sua decisão política de encerrar a central a carvão, abrindo um concurso público, que está a decorrer até 17 de janeiro, para a atribuição do ponto de ligação à rede elétrica.
Com o fecho da central a carvão e dúvidas sobre o futuro dos cerca de 150 trabalhadores, a Tejo Energia contratou uma empresa especializada para dar apoio na procura de novos postos de trabalho, notou o gestor.
"Contratámos uma empresa de 'outplacement', especializada na colocação de recursos humanos", de forma a apoiar os trabalhadores mais qualificados.
"São pessoas que, obviamente, vão trabalhar para outras regiões do país, não vão ficar em Abrantes, com tudo o que isso implica", deu conta, referindo-se aos impactos na economia e no tecido social do concelho de Abrantes na região envolvente.
O ministro do Ambiente e da Ação Climática assegurou no domingo que não vai haver problemas sociais para os trabalhadores com o fim da central elétrica do Pego e mostrou-se confiante de que estes serão integrados em novos projetos.
Em entrevista à RTP3, João Pedro Matos Fernandes considerou "muito relevante" o dia que marca o fim da utilização de carvão para produção de eletricidade em Portugal e destacou que o governo está a "cuidar" dos trabalhadores e dos projetos alternativos que se perspetivam para este ponto de ligação à rede elétrica.
"Não vai haver nenhum problema social, porque soubemos com tempo o que ia acontecer e estamos mais do que preparados. Percebo a preocupação dos trabalhadores, mas vai mesmo correr bem. E vai correr em três dimensões: no apoio social; no concurso para aquele local, que é um ponto de ligação com uma dimensão enorme e em que até 17 de janeiro as propostas serão conhecidas; [...] e o fundo para a transição justa", explicou.
O fim da produção de energia a carvão da central termoelétrica da Tejo Energia estava oficialmente marcado para 30 de novembro, mas com o esgotamento dos stocks de carvão na empresa, na passada sexta-feira (dia 19), a central a carvão já não foi reativada, confirmou à Lusa fonte oficial da Pegop, operadora do Centro de Produção de Eletricidade do Pego.
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