Cabo Verde pede condições a África para atrair investimento privado

O vice-primeiro-ministro de Cabo Verde, Olavo Correia, defendeu hoje a necessidade atrair investimento privado para África e assim financiar as necessidades de infraestruturas, face ao endividamento do continente.

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Lusa
04/12/2021 19:37 ‧ 04/12/2021 por Lusa

Economia

Cabo Verde

 

"É preciso dar ao continente uma nova oportunidade", afirmou Olavo Correia, no discurso de encerramento da Conferência Económica Africana, que decorreu em Santa Maria, ilha do Sal, Cabo Verde, desde quinta-feira, em que destacou a necessidade de tornar África um continente "mais resiliente".

Na sua intervenção, em que defendeu a estabilidade das instituições bem como a transparência no continente e da atuação dos seus líderes, Olavo Correia, que é também ministro das Finanças de Cabo Verde, afirmou que o setor privado "pode fazer a diferença" no processo de desenvolvimento continente e na "dinamização do crescimento inclusivo".

Reconheceu que África precisa de instituições "sólidas e comprometidas" com o interesse do continente, além de capital humano formado, mas também de infraestruturas, apesar das dificuldades de financiamento aos países africanos e do seu acesso aos mercados.

"Temos de criar as condições e fazer esse chamamento, para que os privados possam participar de forma responsável no processo de financiamento ao continente africano", apelou, sublinhando sempre que as lideranças africanas devem dar o exemplo na sua organização e credibilidade internacional.

"Se não fizermos o nosso trabalho de casa, nada do que estamos aqui a falar será realidade, ou será realidade num contexto muito restritivo que não será condizente com os desafios com os quais o continente está confrontado", afirmou.

Nesta sessão de encerramento da mais importante conferência anual económica do continente, Olavo Correia sublinhou que se vive um "momento decisivo" para as economias africanas, devido à pandemia de covid-19, que ameaça os "ganhos conquistados" nas últimas duas décadas pelo continente.

"Os próximos tempos vão ser críticos para o nosso continente. É tempo para tomarmos decisões fortes, corajosas e para mudarmos o rumo", enfatizou.

O governante reconheceu que os "elevados níveis de dívida pública" nos países africanos e as "perspetivas incertas ao nível da ajuda internacional pública, limitam as potencialidades de crescimento económico" e "a capacidade de África realizar investimentos estruturais".

"É por isso que o setor privado terá de cumprir um papel cada vez mais preponderante no desenvolvimento económico do continente africano, para que os países africanos e o continente africano possam ter uma recuperação robusta e para que possamos evitar a estagnação económica e o do aumento da pobreza", justificou.

Uma pobreza, reconheceu, "que tanto envergonha o continente", pelo que é necessário colocar todos os recursos de África para a resolver: "África não merece ter pobres e muito menos pessoas a viver na pobreza extrema".

A segunda edição da Conferência Económica Africana reuniu na ilha do Sal, durante três dias, governos, investidores e académicos de países africanos para debater os desafios do financiamento ao continente no pós-pandemia de covid-19.

O evento, realizado em formato híbrido - presencialmente e por videoconferência --, foi organizado em conjunto pela Comissão Económica das Nações Unidas para África, Banco Africano de Desenvolvimento e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

"Financiar o desenvolvimento de África no pós-covid-19" é o tema da conferência que é a principal reunião económica anual do continente.

Olavo Correia reconheceu na intervenção final a "grande contradição" de o continente continuar a "estender a mão" ao financiamento e ajudas internacionais, ao mesmo tempo que permite o "financiamento ilícito".

"Dez anos de financiamento ilícito em África, no montante que estimamos hoje, dá para financiar toda a dívida pública africana. É por isso que África é um credor líquido. Então, temos de nos esforçar para em primeiro lugar fazer aquilo que está ao nosso alcance enquanto africanos, enquanto governantes, enquanto líderes. Vamo-nos esforçar para pôr fim ao financiamento ilícito e criar as condições para que esse financiamento possa servir as pessoas", apelou.

O baixo valor de arrecadação de impostos em África, devido à "fuga e fraude" ou através de branqueamento de capitais, foi outro problema identificado no encerramento, em contraponto com as necessidades de investimento na saúde no continente.

"Este é o momento do tudo ou do nada", disse, garantindo que todos os governantes em África têm a "obrigação" de dar uma perspetiva de futuro aos cidadãos africanos.

"Ninguém vai fazer por nós o que só a nós compete fazer", concluiu.

 

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