De acordo com as normas sindicais brasileiras, entrar em estado de greve significa que os trabalhadores da Petrobras, na maioria filiados à FUP, estão desde já em alerta para entrar em paralisação caso o Governo decida tirar o controlo do Estado da petrolífera, a maior empresa do Brasil.
"Isso significa que, se o Presidente, Jair Bolsonaro, tiver a ousadia de apresentar ao Congresso Nacional o projeto de lei que prevê a venda da estatal, já está assinalada a realização de uma das mais fortes paralisações na história do setor", afirmou Deyvid Bacelar, coordenador geral da (FUP), citado em comunicado.
De acordo com levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconómicos (Dieese), citado pela entidade sindical, de março de 2015 a novembro de 2021 a Petrobras vendeu 78 ativos, sendo 70 no Brasil e oito no exterior.
Desse montante, 76% foi vendido durante o Governo de Bolsonaro, por um total de 152 mil milhões de reais (23,7 mil milhões de euros).
"Esses dados refletem a disposição do atual Governo de destruir a Petrobras, património dos brasileiros, a preço de banana", lamentou Bacelar.
No entanto, a estatal petrolífera atribuiu a venda de grande parte dos seus ativos ao seu plano estratégico que visa reduzir o endividamento da companhia e concentrar a sua atuação nas cobiçadas áreas marinhas do pré-sal, horizonte de exploração que se encontra abaixo de um camada de sal de dois quilómetros de espessura e cujas reservas gigantescas podem tornar o Brasil num dos maiores exportadores de petróleo do mundo.
A ideia de privatizar a Petrobras ganhou força a partir de outubro passado, devido às fortes críticas que o Governo tem recebido pelos contínuos aumentos do preço da gasolina.
Por essa razão, Bolsonaro tem manifestado reiteradamente a sua vontade de vender a Petrobras, desejo partilhado pelo seu ministro da Economia, Paulo Guedes, que já referiu que o Governo considera vender parte da sua participação no controlo da petrolífera para financiar programas sociais para famílias carenciadas.
Bolsonaro, no poder desde janeiro de 2019, opôs-se até agora à privatização da Petrobras - que é controlada pelo Estado, mas tem ações negociadas nas bolsas de valores de São Paulo, Nova Iorque e Madrid - considerando-a "estratégica" para o país.
No entanto, um ano antes das eleições presidenciais, o líder brasileiro viu a sua popularidade cair vertiginosamente, num momento que coincidiu com o aumento dos preços da eletricidade, gás e combustível, que fizeram disparar a inflação no país sul-americano.
A inflação no Brasil subiu 0,95% em novembro e acumulou 10,74% nos últimos doze meses, a maior taxa interanual desde novembro de 2003, impulsionada novamente pelo aumento do preço da gasolina, que disparou 50,7% no último ano.
Leia Também: Brasil acumula mais 3.451 contágios e 143 mortes