"Convém prestar atenção no curto prazo à evolução dos prémios de risco. O que está a suceder em fevereiro não é acidental. Os Estados-membros do Euro parecem estar a voltar às divergências passadas na perceção de risco por parte dos investidores", refere um relatório da Unidade Técnica de Apoio Orçamental (UTAO), hoje divulgado.
Os técnicos que dão apoio à Comissão de Orçamento e Finanças sublinham que, "sendo certo que muitos países estão a ser percecionados como mais arriscados do que a Alemanha, não pode passar despercebido o facto de a distância se estar a cavar mais entre os EM [Estados-membros] mais endividados e a Alemanha do que entre os demais e a Alemanha.
De acordo com o relatório "Condições dos mercados, dívida pública e dívida externa: fevereiro de 2022", entregue no parlamento, "esta evolução, muito recente, estará com certeza ligada aos anúncios do BCE [Banco Central Europeu] e às expectativas dos mercados de uma alteração na orientação da política monetária na área do euro".
O BCE confirmou na última reunião que irá terminar no final de março o programa de compra de dívida de emergência devido à pandemia (PEPP), tendo mantido as taxas de juro em mínimos. No entanto, os mercados especulam sobre uma eventual subida das taxas de juro já este ano devido ao aumento da inflação na zona euro.
A UTAO nota que os prémios de risco dos títulos de dívida soberana a 10 anos aumentaram no início de fevereiro deste ano, exemplificando que em 11 de fevereiro Portugal, Grécia, Itália, Espanha, Irlanda, França e Bélgica registavam prémios de risco superiores aos níveis verificados no final de 2021.
No caso de Portugal, assinala, em 11 de fevereiro, a posição da curva de rendimentos da dívida pública situava-se acima quer das curvas de rendimentos verificadas no final de 2020, quer da do final de 2021, "com um declive ligeiramente mais acentuado do registado a 30 de dezembro de 2020".
"No período compreendido entre 30 de dezembro de 2021 e 11 de fevereiro de 2022, a curva de rendimentos da dívida soberana portuguesa deslocou-se para cima, em todas as maturidades, refletindo o aumento das taxas de rendibilidade da dívida pública portuguesa. Na sequência desta evolução, é de referir que as taxas de rendibilidade das maturidades mais longas (a cinco, dez e trinta anos) registam 'yields' [taxas de rendibilidade de um título de dívida] positivas", acrescentam os técnicos do parlamento.
Destacam ainda que no final de 2021 os títulos da dívida portuguesa com maturidade a cinco anos registavam uma taxa de rendibilidade negativa (-- 0,26%), "facto que já não se verifica desde 3 de fevereiro de 2022", enquanto na maturidade mais curta (dois anos), "as taxas de rendibilidade da dívida portuguesa ainda se apresentavam negativas em 11 de fevereiro (-- 0,19%), mas registaram um aumento significativo face ao final de 2021(+0,46 p.p.)".
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