Reunião do BCE deve analisar efeitos económicos da guerra na Ucrânia

Os efeitos da guerra na Ucrânia devem estar no centro das discussões na reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) na quinta-feira.

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Lusa
08/03/2022 13:49 ‧ 08/03/2022 por Lusa

Economia

BCE

 

A invasão russa da Ucrânia pode complicar a tarefa do BCE, que terá de ajustar a sua resposta monetária para enfrentar a inflação elevada, mas corre o risco de uma desaceleração do crescimento na zona euro.

Esta crise surge depois de na reunião de fevereiro o BCE não ter fechado a porta a uma subida das taxas de juro ainda este ano, um cenário que até então tinha afastado.

"Após a reunião de fevereiro, dadas as repetidas surpresas ascendentes da inflação, as melhorias no mercado de trabalho e uma mudança de tom por Christine Lagarde, pensámos que em março o BCE aceleraria a redução das compras de ativos mais do que o esperado em dezembro e abriria a porta ao aumento das taxas de juro no quarto trimestre", refere uma nota divulgada pela Unidade de Estudos Económicos e Financeiros do BPI.

"No entanto, a eclosão do conflito entre a Rússia e a Ucrânia pode moderar esta mudança na política monetária. O BCE pode optar por manter uma posição paciente e cautelosa na reunião de março para avaliar a evolução deste conflito e as suas implicações económicas", acrescenta a nota.

A guerra e as sanções impostas pelos países ocidentais à Rússia têm consequências ainda difíceis de avaliar para as economias europeias.

Neste contexto geopolítico sem precedentes desde o fim da Guerra Fria, o BCE "está pronto para tomar todas as medidas necessárias" para garantir a estabilidade de preços, disse recentemente a sua presidente, Christine Lagarde.

O risco de "estagflação", uma combinação de inflação e estagnação económica "aumentou claramente", segundo Carsten Brzeski, economista do ING.

O conflito já levou a uma subida do preço das matérias-primas, que pode ainda acelerar.

Na quinta-feira, o BCE terá novas previsões macroeconómicas que integram os dados mais recentes, nomeadamente a inflação recorde de 5,8% registada em fevereiro na zona euro, bem como o cálculo de efeitos previsíveis do conflito ucraniano.

Os observadores esperam que a instituição liderada por Lagarde confirme a conclusão, no final deste mês, do programa de compra de ativos lançado para contrariar os efeitos da pandemia (PEPP).

O BCE decidiu em dezembro comprar dívida com um outro programa que já existia antes, conhecido como APP, uma vez concluídas as compras de emergência devido à pandemia, mas a um ritmo mais lento do que com o PEPP.

"Acreditamos que o BCE irá confirmar o fim das compras líquidas do PEPP até ao final de março e o aumento das compras líquidas de APP de 20 mil milhões de euros por mês para 40 mil milhões de euros durante o segundo trimestre. Para os próximos trimestres é possível que a declaração do BCE mostre muito mais flexibilidade do que as últimas, onde apresentou o ritmo de redução do APP", referem os economistas do BPI.

Com o aumento da tensão geopolítica, o BCE deve "evitar fazer alusão a prazos finais" para as compras de obrigações e a "datas para o início da subida das taxas", segundo Brzeski.

Os analistas do Goldman Sachs esperam um endurecimento da política monetária do BCE em dezembro, mas acrescentam que a possibilidade de um conflito armado prolongado e cortes no fornecimento de gás possam atrasar essa estratégia de saída de uma política bastante acomodatícia que vigorou nos últimos dois anos devido à pandemia.

Na quinta-feira, o BCE deve também rever em alta a sua previsão de inflação para 2022, que atualmente está em 3,2%, já acima do seu objetivo de 2% a médio prazo.

"Acreditamos que a previsão do BCE para o PIB [Produto Interno Bruto] em 2022 diminuirá ligeiramente e que a inflação esperada para 2022 será muito superior ao que a instituição esperava em dezembro (3,2%)", assinala a nota do BPI.

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