A S&P, que avalia atualmente a dívida soberana portuguesa em nível de investimento 'BBB' com perspetiva estável, tem previsto para esta sexta-feira uma avaliação a Portugal, sendo a segunda agência a fazê-lo este ano.
"Espera-se que a S&P mantenha a atual notação creditícia de 'BBB', bem como o 'outlook' estável", disse Filipe Silva, diretor de investimentos do Banco Carregosa, em declarações à Lusa.
Uma perspetiva partilhada por Henrique Tomé, analista da XTB, que assinala que o atual clima de incerteza nos mercados poderá contribuir para que "a agência de 'rating' não queira avançar já com uma revisão em alta da dívida soberana portuguesa".
O analista acrescenta ainda que "Portugal está dentro dos países da zona euro com maior risco de incumprimento no pagamento da dívida se a economia começar a abrandar", vincando que uma vez que os níveis da dívida excedem os 127% do Produto Interno Bruto (PIB) "é fundamental" que "a economia cresça a um ritmo atrativo a fim de mitigar os riscos associados a este problema".
"No entanto, a invasão russa na Ucrânia continua a alimentar o clima de incerteza no mercado e a preocupar os investidores, bem como as agências de notação de 'rating'", acrescenta.
Filipe Silva também classifica a atual conjuntura económica como "bastante desafiante" tanto para as empresas, como para os países e para os bancos centrais.
"Os atuais conflitos entre a Rússia e a Ucrânia vieram colocar em causa parte da recuperação económica que estávamos a assistir, sendo ainda cedo para se perceber os efeitos colaterais que o mesmo acarreta", refere.
O analista do Banco Carregosa considera que "se é certo que a inflação ainda se irá manter e com possibilidade de até se agravar", também "poderá ser certo que na próxima reunião do Banco Central Europeu (BCE) [que terá lugar esta quinta-feira] se apresentem novos estímulos ou medidas para ajudar a recuperar as economias que vão voltar a sofrer um novo choque".
"Não obstante, a recente colocação da dívida portuguesa mostrou bastante procura, o que demonstra que os investidores continuam a acreditar na resiliência do país para a sua recuperação, bem como no suporte que o mesmo terá por parte do BCE, se tal vier a ser necessário", vinca.
No ano passado, a agência de notação financeira optou por não se pronunciar sobre a dívida soberana portuguesa, apesar de ter previsto avaliações para os dias 12 de março e 10 de setembro.
Mantém-se, assim, a classificação reforçada na última revisão, datada de 11 de setembro de 2020, em que a agência dizia que mantinha o 'rating' e a perspetiva por considerar que Portugal deverá ser capaz de acomodar o choque da atual crise nas finanças públicas devido ao apoio da União Europeia.
A S&P prevê voltar a olhar para a dívida portuguesa no segundo semestre, em 09 de setembro.
A primeira agência de notação financeira a pronunciar-se este ano sobre Portugal foi a DBRS, que manteve, em 25 de fevereiro, o 'rating' em "BBB" (alto), mas melhorou a perspetiva de 'estável' para 'positiva'.
Já a Fitch, que fixou o 'rating' da República Portuguesa em 'BBB' com perspetiva 'estável', deverá pronunciar-se no dia 06 de maio e posteriormente no dia 28 de outubro.
A última agência a avaliar Portugal deverá ser a Moody's, que em 17 de setembro de 2021 subiu o 'rating' do país de 'Baa3' para 'Baa2' -- o penúltimo grau da categoria de investimento de qualidade --, com perspetiva 'estável'. A agência norte-americana tem previsto pronunciar-se no dia 20 de maio e no dia 18 de novembro.
O 'rating' é uma avaliação atribuída pelas agências de notação financeira, com grande impacto para o financiamento dos países e das empresas, uma vez que avalia o risco de crédito.
Os calendários das agências de 'rating' são, no entanto, meramente indicativos, podendo estas optar por não se pronunciarem nas datas previstas ou avançarem com uma avaliação não calendarizada.
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