"Se a pandemia de covid-19 trouxe um conjunto de problemas que obrigou a grande maioria das empresas a sobreviver num ambiente bastante hostil, o futuro que se avizinha pode levar a que muitas delas tenham de fechar ou reduzir a atividade", afirmou o presidente da CPPME, Jorge Pisco, numa audição na 2.ª Comissão Permanente de Economia e Inovação e Turismo, da Assembleia Municipal de Lisboa.
Convocado para falar sobre a recuperação económica de Lisboa nos pós pandemia, Jorge Pisco direcionou grande parte da sua intervenção a críticas aos apoios do Governo, indicando que "não tem sido dada" resposta para "travar a destruição do tecido produtivo".
"Durante quase dois anos o que assistimos foi a uma ação do Governo, na maioria das vezes lenta e desajustada na disponibilização dos apoios necessários de forma atempada, que agudizaram as dificuldades que se fizeram sentir desde o início da pandemia e se continuam ainda a verificar", declarou o presidente da CPPME.
O representante das micro, pequenas e médias empresas disse ainda que as medidas do Governo excluíram "muitos milhares de pequenos empresários", além de que os processos de acesso aos apoios foram "burocratizados" e houve atrasos em pagamentos dessas ajudas.
"Situações lamentáveis que o confinamento generalizado levou ao encerramento de vários setores de atividade económica", apontou Jorge Pisco.
Destacando o papel que as micro, pequenas e médias empresas têm no tecido económico nacional, que "é cada vez mais relevante, quer ao nível da produção de riqueza, quer ao nível da criação de postos de trabalho, representando mais de três milhões de trabalhadores e 60% da criação de riqueza do país", o responsável da CPPME defendeu que tal "não se coaduna com as situações que ainda se verificam em atrasos no pagamento, no apoio às rendas e no apoio à retoma".
Há casos de empresários que foram informados "há dois dias" de que iriam ser pagos os apoios a que se candidataram em junho e julho de 2021, ou seja, cerca de nove meses depois, "uma situação que é inadmissível", criticou o representante das micro, pequenas e médias empresas, acrescentado que os desafios que estes empresários enfrentam "crescem de ano para ano, num mundo cada vez mais globalizado, com cada vez maiores incertezas a nível económico, em que a concorrência das grandes empresas nacionais e multinacionais se faz sentir com cada vez maior intensidade".
Essa situação agrava-se com os recentes "aumentos brutais dos combustíveis e da energia", que deixam "as pequenas e médias empresas irremediavelmente reféns da especulação oportunista das petrolíferas", alertou ainda Jorge Pisco.
Além disso, acrescentou, as últimas medidas anunciadas pelo Governo, inclusive a linha de crédito de 400 milhões de euros para empresas afetadas pelo aumento do custo das matérias-primas e energia, agravado pelo conflito na Ucrânia, "uma vez mais, são restritivas, condicionadas apenas a dois setores de empresas: a indústria transformadora e os transportes".
"Então os outros setores não são afetados? Linhas de crédito para empresas em situações económicas e financeiras difíceis não se tratam de apoios, mas sim de municiar ao endividamento", considerou o responsável, defendendo que a medida que o Governo já deveria ter tomado é "a redução imediata da carga fiscal sob todos os combustíveis e o fim da especulação sobre o estabelecimento de preços máximos para a sua comercialização".
A CPPME já elaborou uma carta de reclamação para a legislatura 2022-2026, que será entregue ao novo Governo depois de tomar posse, assim como aos partidos, com um conjunto de medidas para 10 áreas de atuação, para a implementação e desenvolvimento de uma economia sustentável e dinâmica, em que defende apoios a fundo perdido em vez de linhas de crédito, por considerar que se devem prolongar as ajudas às empresas, que agora enfrentam também o impacto da invasão da Ucrânia por parte da Rússia.
"Quer queiramos quer não, o período de pandemia não terminou, está é encapotado agora com esta situação que vivemos de guerra, com os aumentos dos combustíveis", reforçou Jorge Pisco, adiantando que tal se repercute nos preços das matérias-primas, dando como exemplo o óleo alimentar, a farinha e até as favas que estão a 13 euros por quilograma.
Indicando que as micro pequenas e médias empresas são 99,9% do tecido empresarial português, com um milhão e 200 mil empresas, Jorge Pisco revelou que os dados dos diversos setores de atividade "são deveras muito preocupantes", apontando o caso das agências de viagem que registam "problemas financeiros muito complicados".
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