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Compensar a inflação em mais pobres custaria até 457 milhões ao Estado

Economistas da Universidade Nova estimam que seria necessário o Estado transferir para as famílias mais pobres entre 133 milhões de euros e 457 milhões de euros, consoante o aumento da inflação, para compensar o impacto nos mais carenciados.

Compensar a inflação em mais pobres custaria até 457 milhões ao Estado
Notícias ao Minuto

12:57 - 13/04/22 por Lusa

Economia Estudo

Hoje foi divulgado o relatório 'Despesas essenciais e rendimento das famílias: efeitos assimétricos da inflação', feito pelos investigadores Bruno P. Carvalho, Mariana Esteves e Susana Peralta, sobre a estrutura dos orçamentos familiares consoante o nível de rendimento das famílias, comparando as famílias mais pobres (aquelas que são constituídas pelos indivíduos que estão entre os 20% mais pobres de Portugal, de acordo com o rendimento por adulto equivalente) e as famílias mais ricas (constituídas pelos indivíduos que estão entre os 20% mais ricos de Portugal).

Este estudo, elaborado no âmbito do projeto da Iniciativa para a Equidade Social (parceria entre a Fundação La Caixa, o BPI e a Nova SBE), prevê ainda vários cenários de inflação e estima quanto seria necessário o Estado transferir para as famílias mais pobres para estas manterem o nível de consumo, compensando o impacto da subida dos preços que se prevê significativa.

Segundo o estudo, as famílias mais pobres gastam maior proporção dos seus rendimentos em alimentação, habitação e saúde do que as famílias mais ricas.

As famílias mais pobres gastam duas vezes mais do que as famílias mais ricas em bebidas alcoólicas, 1,7 vezes mais em produtos alimentares, 1,5 vezes mais em comunicações, 1,4 vezes mais em saúde e 1,2 vezes mais em habitação.

Na alimentação, as despesas em produtos alimentares representam 14,3% das despesas dos agregados familiares que residem em Portugal, cerca de 2.914 euros por ano. Os alimentos que mais pesam nos orçamentos familiares são a carne (21,7%), o pão e cereais (15,2%) e o peixe (14,6%). Já para as famílias mais pobres esta proporção nas despesas fica acima da média (de 24,5%, 17,3% e 12,5%, respetivamente).

Também na saúde, e apesar de o Serviço Nacional de Saúde (SNS) ser público e tendencialmente gratuito, os gastos em saúde representam um maior peso nas famílias mais pobres, sendo 6,7% da despesa das famílias mais pobres e 4,8% dos das mais ricas.

Isto apesar de as famílias mais pobres gastarem cerca de metade do valor absoluto, em euros, do que gastam as mais ricas, refere o estudo.

Na habitação, os custos representam 31,9% das despesas dos agregados residentes em Portugal, o que equivale a cerca de 6.501 euros ano.

Neste caso, o peso das rendas no orçamento dos agregados mais pobres é 6,9 vezes superior ao dos mais ricos e o peso das despesas da eletricidade e gás é 1,6 vezes superior.

Por sua vez, as despesas com transportes representam 14,1% das despesas das famílias residentes em Portugal, o que equivale a cerca de 2.863 euros por ano.

Já neste caso as famílias mais ricas gastam uma maior proporção em transportes (15%).

Contudo, as despesas com transportes públicos e coletivos representam um peso maior nas famílias mais pobres (de 15%, praticamente o dobro do registado nas famílias mais ricas). A gasolina representa também um peso maior para as famílias mais pobres.

Segundo os investigadores, "existem diferenças substanciais entre áreas urbanas e rurais".

"Os gastos em transportes públicos e coletivos são 1,5 vezes superiores para os agregados mais pobres que vivem em áreas urbanas comparativamente aos de áreas rurais, com menos acesso a este tipo de serviços. Os agregados mais ricos de áreas urbanas gastam quase o quádruplo dos seus congéneres de áreas rurais em serviços de transporte, o que pode ser parcialmente explicado pela inclusão de serviços do tipo táxi nesta categoria. Nas áreas urbanas, os gastos em combustível são cerca de 80% a 90% menores do que nas áreas rurais, para quase todos os grupos de famílias", referem.

No estudo, os investigadores analisam ainda o aumento de preços que atualmente se verifica (inflação), considerando que "pode ser compensado através de transferências diretas para as famílias mais carenciadas".

Assim, analisando diferentes cenários de inflação que podem surgir (cenários de inflação de 2%, 4% e 6% e um cenário de inflação misto, consoante as categorias de produtos) os investigadores estimam quanto seria necessário o Estado transferir para as famílias mais pobres para acomodar a subida dos preços em alimentação, habitação e transporte.

"Seria necessário transferir entre 158 euros e 545 euros por ano para cada agregado, de forma a colmatar o aumento dos preços nestas três categorias de despesa. Considerando que existem 839.572 famílias neste grupo das mais pobres, seria necessária uma despesa entre 133 milhões de euros e 457 milhões de euros", referem Bruno P. Carvalho, Mariana Esteves e Susana Peralta.

Assim, num cenário de inflação de 2% seria necessário transferir 158 euros para cada família, o que dava uma despesa total de 132,6 milhões de euros.

Num cenário de inflação de 4% seria necessário transferir 316 euros para cada família, o que dava uma despesa total de 265,3 milhões de euros.

Num cenário de inflação de 6% seria necessário transferir 474 euros para cada família, o que dava uma despesa total de 398 milhões de euros.

Por fim, num cenário de inflação diferenciada (inflação de 7,2% em despesas em alimentação, 11% em despesas em transportes e 5,36% em habitação) seria necessário transferir 545 euros para cada família, o que totalizaria 457,4 milhões de euros.

Já num cenário mais conservador, em que o Estado apenas compensa as famílias com indivíduos entre os 10% mais pobres (rendimento equivalente até 5.900 euros por ano), seria necessário transferir entre 142 euros e 487 euros por ano para cada agregado, de forma a compensar a subida dos preços.

Assim, "considerando que existem 405.392 famílias neste grupo, seria necessária uma despesa entre 58 milhões de euros e 198 milhões de euros", dizem os economistas.

Leia Também: Taxa de inflação no Reino Unido nos 7% em março, um máximo desde 1992

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