Trabalhadores da Efacec em greve contestam reprivatização

Os trabalhadores da Efacec cumpriram hoje uma greve parcial que fonte sindical diz ter registado "boa adesão", reclamando aumentos salariais, a demissão da administração e recusando a reprivatização, mas a empresa garante que ficará "mais sustentável e competitiva".

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Lusa
20/04/2022 17:18 ‧ 20/04/2022 por Lusa

Economia

Efacec

"Houve uma boa adesão. O espírito e a revolta dos trabalhadores mantêm-se", afirmou Sérgio Sales, do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Atividades do Ambiente do Norte (Site-Norte), em declarações à agência Lusa.

"Esperemos que a administração e o Estado português tomem medidas ou, de hoje a oito dias, cá estarão os trabalhadores outra vez", acrescentou, numa referência à nova greve parcial de duas horas, entre as 14:00 e as 16:00, marcada para o dia 27.

Segundo o dirigente sindical, são quatro os pontos reivindicativos apresentados pelos trabalhadores: um aumento salarial de 90 euros, a compra de matérias-primas que assegure o normal funcionamento da Efacec, a não reprivatização da empresa e a demissão da administração.

Relativamente à atualização salarial, Sérgio Sales diz que a proposta apresentada no final do ano passado pelo sindicato foi de 90 euros, mas "a administração diz que não vai atribuir aumentos, mas fazer o que chama de 'ajustes'".

"Eles não dizem quais são os critérios [desses ajustes]. Aquilo que sabemos de anos anteriores é que é a aplicação de alguma atualização salarial discriminatória, só para alguns escalões e carreiras, que, às vezes, inclui a atribuição de uma viatura, mas que discrimina a maior parte dos trabalhadores, principalmente a parte operária", disse.

Num comunicado enviado à agência Lusa, a administração da Efacec garante manter "um diálogo regular e permanente" com as comissões de trabalhadores: "As negociações da empresa com os seus trabalhadores são feitas com as respetivas comissões de trabalhadores, através de um diálogo regular e permanente. Adicionalmente, a Efacec respeita integralmente os compromissos assumidos no âmbito da negociação coletiva de trabalho, entre a Associação de Empregadores (ANIMEE) e os sindicatos representativos dos trabalhadores", refere.

Segundo salienta, a empresa tem "sempre presente, a par da progressão salarial, a formação e desenvolvimento de carreiras, a justa remuneração e retenção de todos os trabalhadores".

Outra das reivindicações dos trabalhadores é que o Estado assegure a compra de matérias-primas, cuja escassez dizem continuar a comprometer o normal funcionamento da Efacec.

"A matéria-prima continua a faltar. A maior parte das secções continua sem ter o que fazer, há um projeto ou outro que vai entrando, mas que é muito curto para as necessidades e para o potencial da empresa. Os próprios trabalhadores [do polo] da Maia estão a maior parte do dia parados", afirmou o dirigente do Site-Norte.

Quanto à exigência da demissão administração, o sindicato diz que "os trabalhadores continuam sem confiar na administração", que acusa de manter "a sua política de discriminação e de perseguição.

"Em boa verdade, é difícil compreender como é que o Estado português continua a confiar numa administração que tem sido longe de transparente, inclusive neste processo todo da reprivatização e que já vinha de trás com os anteriores acionistas", sustentou.

Finalmente, os trabalhadores contestam a reprivatização e reclamam que a Efacec se mantenha na esfera do Estado, defendendo que "a nacionalização é o que realmente faz sentido para os trabalhadores, para a manutenção dos seus postos de trabalho e para a própria sustentabilidade da empresa".

No comunicado enviado à Lusa, a administração da Efacec sustenta, contudo, que "o anúncio da conclusão da terceira fase do processo de reprivatização, no final de fevereiro de 2022, com a seleção do comprador, associado às medidas de capitalização da Efacec previstas, às competências dos seus trabalhadores e à confiança dos clientes e parceiros, assinala o início de um novo ciclo da Efacec, que a tornará mais sustentável e competitiva".

No passado dia 25 de março, a Parpública anunciou ter assinado com a portuguesa DST SGPS o acordo de venda direta da participação que detinha na Efacec, seguindo-se uma "fase de concretização das condições precedentes para o fecho da operação de reprivatização", que estará em curso.

Segundo a resolução do Conselho de Ministros que aprovou o negócio, publicada em 25 de fevereiro, a proposta apresentada pela DST foi a que, "ao longo das várias fases do processo, mais se aproximou dos principais objetivos fixados pelo Governo" para venda da Efacec.

O Governo pretendia que o processo de reprivatização dos 71,73% do capital social da Efacec atualmente nas mãos do Estado tivesse ficado concluído até ao final do ano passado, sendo que o grupo DST acabou por ser o único a apresentar uma proposta final de compra.

A entrada do Estado na Efacec decorreu da saída de Isabel dos Santos, filha do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, da esfera acionista, na sequência do envolvimento no caso 'Luanda Leaks', no qual o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação revelou mais de 715 mil ficheiros que detalham alegados esquemas financeiros da empresária.

Leia Também: Efacec. Trabalhadores em greve na 4.ª feira reclamam aumentos salariais

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