Banco de Cabo Verde revê em baixa crescimento para 2022

O Banco de Cabo Verde (BCV) anunciou hoje a revisão em baixa e uma moderação do crescimento económico para 2022 no intervalo de 3,5% a 4,5%, justificada com o conflito na Ucrânia e a tensão geopolítica.

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Lusa
06/05/2022 15:42 ‧ 06/05/2022 por Lusa

Economia

Banco de Cabo Verde

 

Em conferência de imprensa, na cidade da Praia, o governador do BCV, Óscar Santos, explicou que, com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia as perspetivas económicas para este ano estão "fortemente influenciadas" pelos elevados níveis de incerteza e o aumento dos riscos e tensões geopolíticas e financeiras.

E perante este cenário, o regulador cabo-verdiano prevê uma "moderação" do crescimento económico entre 3,5% e 4,5% para este ano, quando tinha prognosticado para entre 4,7 e 5,6%.

"As projeções, face às divulgadas em outubro, refletem uma revisão em baixa do crescimento do PIB [Produto Interno Bruto], como consequência da perda do poder de compra induzida pela subida da inflação e da revisão, em baixa, do crescimento das economias dos principais parceiros económicos do país", sustentou.

Antes do conflito da Ucrânia, Óscar Santos notou que a economia cabo-verdiana "seguia no caminho certo da recuperação", com o PIB a crescer 7% em 2021, depois da recessão histórica de 14,8% em 2020, devido à pandemia de covid-19.

Com o cenário atual, o BCV prevê ainda uma taxa média de inflação de 7,3% em 2022 -- em finais de 2021 foi de 1,9% -, refletindo os elevados preços de matérias-primas energéticas e não energéticas e a sua transmissão aos preços internos.

"O conflito, apesar de regional, teve consequências globais, alimentando, por exemplo, o aumento da inflação jamais visto nas últimas duas décadas", reforçou.

Óscar Santos referiu que os primeiros sinais da inflação surgiram com a reabertura gradual das economias, num contexto de aumento da procura que não foi acompanhada pelo aumento da oferta, provocando roturas nas cadeias de abastecimento globais.

O responsável máximo do regulador do sistema financeiro em Cabo Verde considerou que a inflação poderá ter atingido o seu "pico", esperando que comece a descer a qualquer momento, a não ser que a guerra na Ucrânia se prolongue por muito mais tempo.

Para os próximos seis meses, o BCV avançou que a política monetária deverá continuar "marcadamente acomodatícia", considerando que as atuais pressões inflacionistas resultam, em grande medida, de choques na oferta internacional e não propriamente do aumento exacerbado da procura interna.

Por isso, entendeu que uma eventual intervenção poderá não surtir o efeito desejado, mas considerou que os estímulos monetários são ainda fundamentais para promover a concessão de crédito à economia.

Na conferência de imprensa, Óscar Santos avançou que o 'stock' de reservas internacionais líquidas do país continuará a garantir pelo menos cinco meses de importações de bens e serviços projetados para 2022.

"Não havendo, por isso, pressão capaz de colocar em risco os objetivos de garantir a estabilidade de preços e a credibilidade do regime cambial de paridade fixo com o euro", explicou.

O BCV decidiu manter as taxas de juros de referência, nomeadamente as taxas das facilidades de cedência de liquidez, de absorção de liquidez, bem como a taxa diretora e o coeficiente das disponibilidades mínimas de caixa nos níveis atuais.

Também manterá, até 31 de dezembro, o atual programa de financiamento de longo prazo, através da Operação Monetária de Financiamento (OMF), com a maturidade máxima de três anos, com condições especiais de financiamento a taxa de juro de 0,75%.

O regulador cabo-verdiano prometeu continuar o "controlo apertado" dos riscos macrofinanceiros e promete reforçar os seus mecanismos de acompanhamento e de mitigação dos seus efeitos na economia nacional.

O arquipélago enfrenta uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do PIB do arquipélago - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.

Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021 impulsionado pela retoma da procura turística.

Para 2022, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, nomeadamente a escalada de preços, o Governo cabo-verdiano baixou a previsão de crescimento de 6% para 4%.

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