Prevista no âmbito das drásticas sanções impostas a Moscovo devido à invasão da Ucrânia, a exceção acabará às 00:01 de quarta-feira (05:01 de Lisboa), dois dias antes do próximo prazo de pagamento da Rússia.
Desde as primeiras sanções contra a Rússia, o Departamento de Tesouro norte-americano tinha concedido aos bancos uma autorização para processar qualquer pagamento de títulos de dívida da Rússia.
O governo liderado por Joe Biden já tinha dado sinais que não pretendia estender o prazo desta exceção.
Em conferência de imprensa antes de reuniões do G7 em Koenigswinter, Alemanha, na semana passada, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, tinha explicado que a janela existia "para permitir um período de tempo para que ocorresse uma transição ordenada e para que os investidores pudessem vender títulos".
"A expectativa era que fosse por tempo limitado", realçou Yellen.
Sem a licença para usar os bancos norte-americanos para pagar as suas dívidas, a Rússia não terá capacidade para pagar aos seus investidores internacionais de títulos.
O Kremlin (presidência russa) tem utilizado o JPMorgan Chase e o Citigroup como canais para o pagamento das suas obrigações.
Desde 05 de abril, quando as sanções contra Moscovo foram reforçadas, que a Rússia já não podia pagar a sua dívida com dólares que detinha em bancos norte-americanos, noticia a agência France-Presse (AFP).
A governadora do banco central russo, Elvira Nabioullina, admitiu em 29 de abril que Moscovo estava a enfrentar "dificuldades de pagamento", mas recusou-se a falar sobre um possível incumprimento.
O Kremlin parece ter previsto a probabilidade dos EUA não permitirem que a Rússia continue a pagar os seus títulos em dólares e o Ministério das Finanças russo pagou antecipadamente, na sexta-feira, dois títulos que venceriam este mês, para antecipar o prazo de 25 de maio, noticia ainda a AP.
Nesse caso, os próximos pagamentos que a Rússia precisará de fazer vencem em 23 de junho e, como outras dívidas russas, esses títulos têm um período de carência de 30 dias, o que faria com que a situação de 'default' [não cumprimento] fosse declarada até ao final de julho, exceto o cenário improvável da guerra na Ucrânia terminar antes dessa data.
A dívida externa da Rússia representa, segundo o Ministério das Finanças russo, cerca de 4.500 a 4.700 biliões de rublos (cerca de 78 a 81 mil milhões de dólares na taxa atual), ou 20% do total da dívida pública.
A Rússia não deixou de pagar as suas dívidas internacionais desde a Revolução de 1917, quando o Império Russo entrou em colapso e a União Soviética foi criada.
No final da década de 1990, a Rússia deixou de pagar as suas dívidas domésticas durante a crise financeira asiática, mas conseguiu recuperar dessa situação de 'default' com ajuda internacional.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já causou a fuga de mais de 14 milhões de pessoas de suas casas -- cerca de oito milhões de deslocados internos e mais de 6,3 milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 15 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.
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