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Seca. Agricultores e pastores do Norte dizem viver "situação gritante"

O diretor da Associação dos Agricultores e Pastores do Norte (APT), João Morais, afirmou hoje que os associados estão a viver uma "situação gritante" devido à falta de água na região, cujos distritos atingiram níveis de seca severa e extrema. 

Seca. Agricultores e pastores do Norte dizem viver "situação gritante"
Notícias ao Minuto

15:33 - 22/06/22 por Lusa

Economia Seca

"Estamos numa situação gritante (...) Em fevereiro estávamos com uma seca meteorológica, mas atualmente estamos numa seca hidrológica porque há muita falta de água nos solos", afirmou João Morais. 

À Lusa, o diretor da APT adiantou que a escassez de água está a impactar tanto as culturas de inverno, como o caso dos fenos que não se desenvolveram o suficiente, como as culturas de primavera e verão, dando o exemplo de alguns agricultores na zona de Boticas, no distrito de Vila Real, que apostaram na produção de milho face ao embargo dos cereais provenientes da Ucrânia, mas que o mesmo está "com fraco desenvolvimento". 

"Este ano vai ser muito complicado", salientou João Morais, dizendo que, à semelhança das culturas anuais, também as culturas permanentes estão a padecer do mesmo mal, como na zona de Vila Pouca de Aguiar, também no distrito de Vila Real, onde alguns agricultores plantaram castanheiros que "agora estão a secar por falta de água". 

João Morais detalhou ainda que alguns produtores já colocam a hipótese de vender o seu rebanho, uma vez que "o 'stock' de feno que tinham para o próximo inverno já foi consumido neste pela falta de pasto devido à falta de água no solo". 

"Primeiro está a alimentação humana e só depois a alimentação dos animais", lembrou o diretor da APT, que acredita que muitos produtores pecuários "vão desistir" e, se não o fizerem, "vão acabar por vender os animais". 

A par da seca, João Morais afirmou que também "a guerra na Ucrânia veio desgraçar" os produtores agrícolas e pecuários, dando o exemplo do preço de uma tonelada de milho em grão, que antes da invasão da Rússia rondava os 180 e 200 euros e agora custa 500 euros.

Lembrando que os associados que apostaram na produção de milho "arriscaram", mesmo face o aumento do preço do gasóleo agrícola, João Morais salientou que "ou entra rapidamente milho e outros cereais no país, ou vamos sentir os efeitos da oferta e da procura". 

"Estamos a chegar a um ponto em que a chuva faria milagres", considerou, destacando que da parte do Governo "chegam promessas" para combater os efeitos da seca, "prometem-se milhões", mas que ainda nada chegou "ao bolso dos agricultores". 

"Também não quer dizer que isso seja uma solução, mas pode atenuar. O Governo pode sempre fazer melhor. Não é o Governo que vai trazer a chuva, mas há políticas que podem ser tomadas para minorar tudo isto", afirmou.

Ainda que não acredita, João Morais e os associados esperam "por uma boa nova" ou que "o S. Pedro e a Santa Bárbara enviem muita água e pouca trovoada".

Na terça-feira, Vanda Pires, do Departamento de Clima e Alterações Climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), disse que os distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto atingiram níveis de seca severa e Vila Real e Bragança de seca extrema.

Depois de "praticamente toda a região" registar no final de maio o nível de seca severa, a equipa do IPMA voltou, em 15 de junho, a calcular o nível de gravidade, de acordo com a escala utilizada, que categoriza a seca como fraca, moderada, severa ou extrema. 

"Temos os distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto em seca severa e os distritos de Vila Real e Bragança em seca extrema", disse, dando nota de que este é um "agravamento bastante significativo". 

A responsável adiantou ainda que "as notícias não são animadoras" quanto à previsão de ocorrência de chuva para os próximos dias, apesar de para esta semana estar prevista "alguma precipitação" para o litoral Norte e Centro.

Quanto aos restantes meses de verão (julho e agosto), Vanda Pires afirmou que os modelos de previsão para a precipitação apontam para um verão "dentro da normalidade", até porque a ocorrência de chuva é baixa.

"Esperemos é que em setembro e outubro, no início do novo ano agrícola, realmente voltem as chuvas e que a situação melhore, caso contrário teremos uma situação muito complicada", destacou. 

Leia Também: TdC recomenda medidas face a falhas e irregularidades no instituto Camões

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