O euro voltou a cair hoje no mercado cambial e a taxa de câmbio com o dólar tocou a paridade, um mínimo de 20 anos, desde 15 de julho de 2002, devido ao risco de recessão na zona do euro e às incertezas energéticas provocadas pela guerra na Ucrânia.
Segundo dados da Bloomberg consultados pela Efe, o euro atingiu a paridade com o dólar às 10:46 em Lisboa, tendo-se desvalorizado 0,4% face ao fecho de segunda-feira e 12,05% desde o início deste ano, depois de ter terminado 2021 a 1,137 dólares.
Especialistas citados pela Efe acreditam que as recentes subidas das taxas de juro pela Reserva Federal dos EUA (Fed) reforçaram o dólar e encorajaram os investidores a refugiarem-se nesta moeda, enquanto o risco de recessão e as preocupações energéticas impulsionadas pela guerra na Ucrânia pesam cada vez mais sobre a zona euro.
Além disso, as tensões internas dentro da zona euro estão a enfraquecer ainda mais o euro.
O dólar está fortalecido devido aos fundamentos económicos mais fortes dos EUA e à subida rápida e acentuada das taxas de juro da Fed para conter a inflação.
Os dados económicos da zona euro são mais fracos e o BCE só vai começar a aumentar as taxas de juro na próxima semana para conter a inflação e previsivelmente com mais contenção do que a Fed.
Como resultado, as taxas de juro são mais elevadas nos EUA do que na zona euro e os investimentos denominados em dólares rendem mais e são mais atrativos para os investidores.
As taxas de juro a que o BCE empresta semanalmente aos bancos são de 0% e a taxa de depósito de -0,50%, enquanto as taxas da Fed já se situam entre 1,5% e 1,75%.
Enquanto a economia europeia está a enfraquecer, a Fed tem sido capaz de aumentar as suas taxas de juro agressivamente e assim o dólar tem-se fortalecido porque os EUA oferecem taxas de juro mais elevadas.
Por conseguinte, é evidente que os investidores preferem comprar dólares em detrimento de outras moedas, como o euro ou mesmo o iene, que também tem sido tradicionalmente considerado um investimento seguro em tempos de crise.
A guerra na Ucrânia está a atingir muito mais a Europa e respetiva economia, razão pela qual se está a considerar a possibilidade de uma recessão, uma hipótese também avançada para os EUA e outras regiões.
"Os estrangulamentos no fornecimento e as consequências da guerra na Ucrânia estão a pesar no crescimento da zona euro a curto prazo", dizem analistas do Commerzbank.
O euro atingiu a paridade depois de ter sido noticiado que a confiança dos investidores desceu na Alemanha em julho devido a preocupações com o fornecimento de energia.
Os investidores esperam uma recessão na zona euro devido à crise energética e a probabilidade de a Alemanha entrar em recessão é maior devido à sua maior dependência do gás russo.
O vice-chanceler e ministro da Economia alemão, Robert Habeck, disse na segunda-feira que é muito difícil dizer se o gasoduto Nord Stream 1 irá retomar o fornecimento de gás uma vez terminados os trabalhos de manutenção.
Além disso, a possibilidade da China adotar novas contenções depois do aumento dos contágios de covid-19 poderia pesar sobre a economia do país e sobre a economia global.
Mas embora as expectativas na zona euro tenham caído em julho, as perspetivas de inflação estão a aumentar e um euro fraco intensifica ainda mais a inflação porque a energia e outras mercadorias são pagas em dólares.
Como resultado, a energia e as importações de mercadorias tornaram-se muito mais caras na zona euro e os preços do gás, eletricidade, alimentos e muitos outros produtos estão a subir.
O iene também continua a depreciar-se em relação ao dólar, estando o "bilhete verde" a ser negociado a 137 ienes, um mínimo desde setembro de 1998, numa altura em que a política monetária do banco central japonês se distancia da da Fed ou da do Banco Central Europeu (BCE).
O iene está a um mínimo de quase 24 anos em relação ao dólar, uma vez que o Banco do Japão (BOJ) mantém uma política monetária expansionista porque a economia japonesa está a enfraquecer, mas a inflação é baixa.
O governador do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, reiterou que a incerteza permanece muito elevada, o que aumentou os receios de que a economia japonesa também entre em recessão.
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