Ursula von der Leyen vai ao Parlamento Europeu na próxima quarta-feira, e quatro eurodeputados portugueses deixaram hoje claro que as medidas adotadas na energia vão ser uma das áreas da intervenção da Comissão Europeia a criticar, além da falta de compensações para os efeitos da subida dos preços e das taxas de juro.
A dependência energética externa da União Europeia vem de há muitos anos e as medidas que estão a ser agora adotadas, depois do problema se agravar com a guerra na Ucrânia, continuam a não ser estruturais e são essas que se esperam, coincidiram os eurodeputados Margarida Marques (eleita pelo PS), Margarida Matias (BE), José Manuel Fernandes (PSD) e João Pimenta Lopes (PCP).
"Com 18 anos passados da União para a energia, estamos muito aquém dos objetivos", afirmou Margarida Marques no evento organizado pelo Parlamento Europeu em Portugal a antecipar o debate da próxima semana com a presidente da Comissão.
"O essencial continua por resolver. Medidas concretas, estruturais para resolver o problema continuam a não existir. Não há maior independência energética. O que estamos a fazer é criar novas dependências", sublinhou Marisa Matias, apontando ainda que a pobreza energética aumenta em acordo com os preços.
José Manuel Fernandes colocou a responsabilidade mais sobre os governos de cada Estado do que na Comissão, acusando que "tivemos foi lideres que foram gulosos, queriam energia barata, esquecendo que estavam a colocar-se na mão da Rússia."
O problema está muito nas mãos dos governos, defendeu, esclarecendo que mesmo agora, "cada Estado procura ter as suas reservas, o que leva a aumentos de preços", em vez de se coordenarem e depois partirem "para as interconexões, a produção e a distribuição" que resolva o problema de forma estrutural.
"Os nossos governantes pensam só nas eleições do dia seguinte e depois a culpa é da Comissão Europeia", afirmou, referindo que o que a Comissão pode e deve fazer é flexibilizar os instrumentos que estão aos dispor dos Estados.
João Pimenta Lopes, eleito pelo PCP, disse que o que se verifica são "medidas que agravam, oneram ainda mais a situação dos cidadãos" e que não fazem mais do que transferir dependências, até com opções mais caras -- como importar os EUA - e ambientalmente mais danosas.
"Estamos a ver a aplicação de medidas que vão impactar nas pessoas", incluindo a subida das taxas de juro, quando os problemas resultam da especulação das empresas, nomeadamente em termos energéticos", afirmou, sublinhando ainda que há uma "dimensão fundamental" que é aumentar os salários e "o que vemos é o contrário", são "medidas que pretendem salvaguardar os grupos económicos".
Também Margarida Marques disse que uma "decisão deste tipo (forte aumento das taxas de juro) não pode deixar de ser acompanhada por um plano de emprego, investimento (...) tem de haver uma resposta europeia".
A eurodeputada alertou também que sem isso, há o risco de "os cidadãos da UE se desligarem do apoio Ucrânia", porque a perceção será que as medidas para penalizar a Rússia e apoiar os ucranianos estão a penalizar em demasia os cidadãos europeus.
"As taxas de juro não resolvem o problema da inflação", sustentou também Marisa Matias, citando uma estudo do Banco Central Europeu que mostra o peso grande da componente da formação dos lucros na inflação, denunciando que este aspeto "raramente é tocado".
O debate anual do Estado da União, da próxima quarta-feira, em Estrasburgo, vai focar-se nos próximos desafios da UE, na avaliação dos eurodeputados sobre o último ano, nos planos para o futuro do projeto europeu e as prioridades.
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