"Antes de uma impiedosa pandemia, antes de incontáveis workshops sobre o bem-estar psicológico, antes de ações de 'team building' divertidas e antes de programas de sensibilização nas escolas e nas empresas, a saúde mental era apenas aquela 'pessoa', muito nossa amiga, mas a quem nunca ligamos.
Seguem-se dias a fio, bons e maus, sem tempo para lhe dar a devida atenção porque ‘há imenso trabalho para fazer’. E se há dias em que se assemelha a uma ponte perfeitamente estável, capaz de suportar até o mais pesado dos veículos, noutros é uma ponte desgastada, pronta para ruir ao mais leve sopro, com uma torrente de pensamentos tóxicos e negativos a passar-lhe incessantemente por baixo.
Resignamo-nos? Desenvolvemos mecanismos capazes de melhorar a nossa saúde mental, nomeadamente no ambiente de trabalho?
O caminho deverá ser, sempre, o segundo.
No entanto, este não deve ser um trabalho individual e solitário. Para além daquilo que podemos fazer por nós mesmos, também os Recursos Humanos e os líderes devem ter um papel cada vez mais interventivo, para garantir que o bem-estar dos colaboradores e o seu desempenho está unido por uma ponte que, não sendo infalível, é sustentada vigorosamente.
Porque não ter o líder a falar, por exemplo, sobre algumas das suas experiências pessoais e desafios para manter a sua mente saudável e estratégias usadas?
Normalização da conversa sobre o tema. Sem julgamentos
Os líderes, pela natureza do seu papel, tendem a estabelecer o tom e a definir a abertura para abordar determinados temas. Aqui, claro, enquadra-se a questão da saúde mental.
Porque não ter o líder a falar, por exemplo, sobre algumas das suas experiências pessoais e desafios para manter a sua mente saudável e estratégias usadas? Abordar o tema sem complexos e sem usar termos leves para camuflar a complexidade de um assunto, além de ser quase terapêutico para quem o vocaliza, acaba por abrir caminho para quem ainda não está completamente confortável em falar sobre o que sente e que, como consequência, acaba por prejudicar a sua performance e produtividade.
Colaboradores que sentem que os seus problemas são ouvidos e valorizados tendem a aumentar a sua produtividade. Não é uma teoria, é um facto.
Os líderes podem dar o exemplo terminando o dia de trabalho à hora certa, permitindo pausas com alguma regularidade e, segundo a história mais recente em que quase todo o mundo foi protagonista, a flexibilidade para desempenhar a sua função em teletrabalho
O equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal
Todos nós conhecemos aquele colega que não impõe limites a si mesmo e que trabalha horas a fio, certo? Bem, garanta, o melhor que conseguir, que não é nem se tornará nessa pessoa.
Aqui, o líder volta a ter um papel decisivo, mas não se limita a si próprio. Também os colegas de trabalho, especialmente aqueles com quem se trabalha mais diretamente, podem e devem dar o seu exemplo no que diz respeito à criação de 'boundaries' [limites].
Os líderes podem dar o exemplo terminando o dia de trabalho à hora certa, permitindo pausas com alguma regularidade e, segundo a história mais recente em que quase todo o mundo foi protagonista, a flexibilidade para desempenhar a sua função em teletrabalho.
No final, todos ganham.
"Educar" a variável Stress
Todos nós, em maior ou menor quantidade, lidamos com o stress diariamente. No entanto, muitas vezes, mesmo com elevados níveis de stress, a própria pessoa tende a não reconhecer a situação que poderá, mais tarde, ser alarmante.
Por isso, cabe também à liderança estar atenta a sinais de 'burnout' e encorajar os seus colaboradores a adotarem técnicas que facilitem a gestão do stress. Este stress pode manifestar-se de várias formas, de entre as quais as dores de cabeça constantes, perda de propósito, sucessão anormal de erros ou conflitos no trabalho.
Programa direcionado para a Saúde Mental
Atualmente, diversas empresas apostam em planos com várias finalidades, tal como um plano de incentivos. Do mesmo modo, um plano focado na saúde mental ou na felicidade dos colaboradores abre a porta para uma consciencialização e um empenho em manter um ambiente saudável e produtivo nas organizações. Para este fim, existem algumas estratégias que podem ser implementadas, como:
- Questionários sobre a saúde mental no trabalho: melhor do que tentar adivinhar o que se passa ‘por detrás da cortina’, é deixar as pessoas apontar o que as preocupa ou fazer sugestões que melhorem o ambiente de trabalho e as relações entre si. Uma vez identificados os triggers, torna-se mais fácil delinear e implementar estratégias que levem à sua resolução.
- Aprender a lidar com o stress não é o mesmo que diminuir o stress: trabalhar horas a fio, sem pausas ou sem terminar o dia a horas, pode dar a ideia, quase sempre irreal, de que a produtividade será maior. Porque a verdade é que mais tempo não significa necessariamente mais trabalho (bem) feito, pelo que é necessário estabelecer limites connosco mesmos e com os que nos rodeiam. A flexibilidade na hora de entrada, a possibilidade de fazer algumas pausas e, até, a possibilidade de realizar o trabalho remotamente são algumas formas de, não só ajudar a lidar melhor com o stress, como, em alguns casos, a diminuí-lo significativamente."
Artigo de opinião assinado por Micael Santos, consultor de Marketing e Comunicação da RHmais.
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