Os dados divulgados esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) indicam que a variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) foi de 8,9% em agosto, inferior em 0,2 pontos percentuais à observada no mês anterior.
Esta média tem por trás variações de preços muito superiores em algumas das classes de produtos e serviços que integram o cabaz, como é o caso dos bens alimentares e bebidas não alcoólicas (com variações de 16,3% e 15,3%, respetivamente) ou da habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis, que avançaram 14,9%.
A comparação com o primeiro mês deste ano -- quando não tinha ainda começado a guerra a Ucrânia -- aponta igualmente para variações a dois dígitos nestas classes de produtos.
Um contexto que leva Susana Peralta, economista e professora na Nova SBE, a sublinhar que "as famílias mais pobres enfrentam inflações mais elevadas [do que a taxa média de inflação]" devido ao peso que bens e serviços essenciais, como alimentos, água, eletricidade e gás, têm no seu orçamento.
"Há aí um drama social a que temos de responder", disse Susana Peralta, em declarações à Lusa, referindo que a desaceleração da inflação agora registada, sendo positiva, não deverá ser muito valorizada, até porque a tendência deverá inverter-se com a chegada do inverno e a subida do consumo de energia numa Europa que se debate com escassez de oferta.
"Em si esta desaceleração da inflação é boa, no sentido em que não piorou", mas agora "é preciso ver se vai manter num contexto em que a Europa está a entrar em crise energética e a procura por energia vai aumentar", precisou a economista, admitindo que os tempos que se aproximam podem "ser complicados" devido à questão energética, ainda que a intervenção do Banco Central Europeu (BCE), com a subida das taxas de juro, vise justamente fazer recuar a escalada dos preços.
Susana Peralta admite que é difícil prever como vai evoluir a inflação porque, "por um lado, haverá mais procura de energia, mas, por outro lado, há a intervenção do BCE". "O que sabemos é que as pessoas com menores rendimentos concentram as despesas nos bens essenciais e esta inflação é horrível porque afeta pelo lado da energia e pelo lado da alimentação, precisou.
Os dados do INE agora divulgados mostram que a variação de preços dos alimentos e bebidas não alcoólicas avançou 12,46%, entre janeiro e agosto, sendo que, apenas nas categorias dos peixes (8,30%) e do açúcar, confeitaria e mel (4,20%), a subida foi inferior a dois dígitos.
Já os óleos e gorduras subiram 27,24%, a carne 17,26%, as frutas 13,30% e o pão e cereais 12,97%. Com variações ainda mais acentuadas, por comparação com a situação vivida no início este ano, estão os produtos energéticos, nomeadamente eletricidade (29,02%), o gás (18,97%) ou os combustíveis líquidos para aquecimento (31,49%).
Os dados do INE indicam que a variação de preços nas férias organizadas ascendeu a 51,48%, entre janeiro e agosto, e a 69,62% nos serviços e alojamento, o que pode, pelo menos em parte, ser explicado, aponta Susana Peralta, pelo efeito da sazonalidade -- já que no início deste ano o país ainda estava sob medidas de restrição devido à pandemia de covid-19.
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