"Até 2024, é a nossa previsão para estabilizar a companhia, ter a companhia apetecível para poder ser privatizada", anunciou o ministro Carlos Santos, confirmando que nas contas do Governo está prevista uma injeção global de 3.000 milhões de escudos (27,3 milhões de euros), em três anos, incluindo 2022.
A previsão do Governo é privatizar a TACV, renacionalizada em julho de 2021 no âmbito das consequências e restrições provocadas pela pandemia de covid-19, após três anos de apoio, sendo que parte da verba de 9,1 milhões de euros prevista para este ano, de acordo com o ministro, já foi utilizada, nomeadamente para pagar salários na companhia.
"Este é o objetivo que nós temos definido: 2024 [privatização]", afirmou hoje o ministro do Turismo e Transportes, em conferência de imprensa de balanço da reunião do Conselho de Ministros realizada no dia anterior, na qual foi aprovada a proposta de resolução que autoriza o acionista Estado a "colocar à disposição" da TACV "recursos financeiros para garantir a estabilidade da empresa".
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da Cabo Verde Airlines -- nome comercial da companhia) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
"Em 2016, como sabem, o Governo [eleito nesse ano] salvou a TACV da falência que já estava pré-anunciada, tendo definido um quadro de reestruturação que depois desembocou na privatização da empresa", disse.
"Em 2021, após negociações com o parceiro Icelandair, e tendo em conta a situação provocada pela pandemia da covid-19, o Governo decidiu novamente salvar a empresa, precisamente porque entende o Governo que a TACV é uma peça importante, uma peça estratégica para o desenvolvimento do país, designadamente na construção do conceito de plataforma de serviços aéreos em Cabo Verde e para isso fez a reversão dos 51% do capital", justificou ainda.
Na sequência da paralisação da companhia durante a pandemia, o Estado assumiu em 06 de julho de 2021 a posição de 51% na TACV, alegando vários incumprimentos na gestão, e dissolveu de imediato os corpos sociais, detendo atualmente 90% do capital social.
"Somos um país com uma diáspora distribuída pelos quatro cantos do mundo e, agora, depois desta pandemia, demos conta que não tendo uma companhia ficamos muito mais vulneráveis, com companhias a praticar preços exorbitantes", justificou Carlos Santos.
A opção de investir mais de 27 milhões de euros em três anos para manter e fazer crescer a companhia, sublinhou o ministro, já estava prevista em negociações com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e está "alinhada com a política do turismo", de "diversificação do setor e da oferta", o que obriga a "induzir a diversificação na procura".
"O Governo quer manter a empresa, pois após as turbulências por que estamos a passar será útil para materializar toda essa estratégia (...) Os prejuízos que a empresa terá agora serão amortizados pelos ganhos e os proveitos que nós esperamos ter no futuro. E nós não devemos apenas avaliar os prejuízos da empresa delimitados pelo seu balanço, porque a empresa também tem externalidades positivas e é com os olhos postos nessas externalidades positivas que nós estamos a investir", enfatizou Carlos Santos.
Em comunicado divulgado em 10 de agosto passado, a administração da TACV, liderada por Sara Pires, reconheceu dificuldades no pagamento dos salários de julho e que o atual nível de atividade da companhia "não gera receitas suficientes para honrar todos os compromissos".
"A empresa reafirma que o capital humano é o seu bem maior e que tudo está sendo feito para normalizar a situação do pagamento do salário de julho de 2022. A empresa, à semelhança de muitas outras empresas de aviação, foi duramente fustigada pela pandemia de covid-19, tendo registado perdas colossais", admitiu a companhia.
"Estamos a criar um quadro previsível para que todos os parceiros da TACV, sejam eles clientes, fornecedores, os próprios acionistas, mas também a banca, que é o credor, vejam que nesta empresa há um interesse sério do acionista maioritário, que é o Estado, em fazê-la crescer. E para isso temos logo efeitos positivos no relacionamento que a empresa vai ter com a banca, vai ter com os trabalhadores", esclareceu Carlos Santos, sobre este financiamento anual.
A TACV retomou as operações, após a suspensão de todas a atividade em março de 2020 devido à pandemia, inicialmente com voos apenas entre Praia e Lisboa, desde o final de dezembro. Com apenas uma aeronave, os voos foram alargados já este ano das ilhas de São Vicente e do Sal para a capital portuguesa.
Segundo Carlos Santos, continua em cima da mesa o aluguer de um segundo avião - a TACV opera apenas com uma aeronave alugada à angolana TAAG - e manter a aposta no crescimento internacional.
"Por tudo isto nós queremos repagar esta companhia, estabilizá-la, para quando houver águas calmas em Cabo Verde e no mundo inteiro conseguirmos ter a possibilidade de reprivatizar essa companhia e continuar ao serviço do país, construindo aquilo que é o conceito da plataforma com o seu epicentro na ilha do Sal", disse ainda.
[Notícia atualizada às 15h46]
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