Dirigindo-se à comissão de Assuntos Económicos e Monetários do Parlamento Europeu, em Bruxelas, Lagarde começou por comentar que "a guerra de agressão injustificada da Rússia contra a Ucrânia continua a lançar uma sombra sobre a Europa" e assumiu que "as perspetivas são cada vez mais sombrias", advertindo que "é expectável que a situação piore antes de melhorar".
Apontando que "a economia da zona euro cresceu 0,8% no segundo trimestre de 2022, principalmente devido à forte despesa dos consumidores em serviços, à medida que a economia foi reabrindo", a presidente do BCE observou também que "as economias com grandes setores turísticos beneficiaram especialmente, uma vez que as pessoas viajaram mais durante o verão", e "o mercado de trabalho ainda robusto também continuou a apoiar a atividade económica".
Contudo, advertiu então, o BCE espera "que a atividade abrande substancialmente nos próximos trimestres", e apontou "quatro razões principais" para esta projeção, a primeira das quais "a inflação elevada", que em agosto atingiu os 9,1% no espaço da moeda única, e que está a "enfraquecer as despesas e a produção em toda a economia", fenómeno agravado "pelas perturbações no fornecimento de gás".
Lagarde apontou, em segundo lugar, o facto de "a forte procura de serviços que veio com a reabertura da economia estar a perder vapor", em terceiro "o enfraquecimento da procura global, também no contexto de uma política monetária mais restritiva em muitas grandes economias", e, por fim, o facto de a incerteza permanecer elevada, "o que se reflete na queda da confiança das famílias e das empresas".
A presidente do BCE sublinhou que "os preços mais elevados da energia e dos alimentos estão a pesar especialmente nas famílias mais vulneráveis e espera-se que a situação piore antes de melhorar".
"Estes desenvolvimentos levaram a uma revisão em baixa das últimas projeções para o crescimento económico para o resto do ano em curso e ao longo de 2023. Os funcionários do BCE esperam agora que a economia cresça 3,1% em 2022, 0,9% em 2023 e 1,9% em 2024", assinalou.
Na mesma linha, prosseguiu, as projeções da inflação por parte do BCE foram revistas em "alta significativa", esperando-se agora que a inflação anual seja de 8,1% em 2022, 5,5% em 2023 e 2,3% em 2024, com o risco de estes valores serem ainda mais elevados.
"Os riscos para as perspetivas de inflação estão principalmente do lado ascendente, refletindo principalmente a possibilidade de novas perturbações importantes no fornecimento de energia. Embora estes fatores de risco sejam os mesmos para o crescimento, o seu efeito seria o oposto: aumentariam a inflação, mas reduziriam o crescimento", alertou.
Lagarde defendeu que, "neste ambiente, é essencial que o apoio orçamental utilizado para proteger essas famílias do impacto de preços mais elevados seja temporário e direcionado", argumentando que tal "limita o risco de alimentar as pressões inflacionistas, facilitando assim também a tarefa da política monetária para assegurar a estabilidade dos preços, e contribuindo para preservar a sustentabilidade da dívida".
Nas suas duas últimas reuniões o BCE aumentou as taxas de juro em 125 pontos base no total, a maior subida da sua história, tendo hoje a presidente da instituição alertado que é de esperar novos aumentos nas próximas reuniões.
"Na situação atual, esperamos aumentar ainda mais as taxas de juro durante as próximas reuniões para amortecer a procura e prevenir o risco de uma persistente mudança ascendente nas expectativas de inflação. Iremos reavaliar regularmente a nossa trajetória política à luz da informação recebida e da evolução das perspetivas de inflação. As nossas decisões políticas futuras continuarão a ser dependentes de dados e seguirão uma abordagem reunião a reunião", declarou.
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