O Banco de Portugal (BdP) melhorou as perspetivas de crescimento deste ano em 0,4 pp. para 6,7%, assinalando uma recuperação do nível pré-pandemia no primeiro trimestre, mas um abrandamento posterior, que se irá refletir em 2023.
No Boletim Económico de outubro, divulgado hoje, a instituição liderada por Mário Centeno apenas apresenta previsões para este ano, mas assinala o impacto em 2023 do abrandamento do crescimento económico registado a partir do segundo trimestre.
Além disso, o BdP reviu em alta de 1,9 pontos percentuais (pp.) a previsão da taxa de inflação para este ano, para 7,8%, o valor mais elevado desde 1993, refletindo as crescentes pressões externas sobre os preços.
"Os efeitos negativos da agressão militar russa na Ucrânia foram-se acentuando ao longo do ano, implicando uma relativa estabilização da atividade a partir do segundo trimestre. Estes efeitos serão mais notórios em 2023, antecipando-se uma desaceleração significativa face a 2022, desde logo com um efeito de arrastamento que passa de 3,9 pp. [pontos percentuais] para 0,5 pp.", pode ler-se.
No entanto, para este ano a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é revista em alta de 0,4 pp. face a junho para 6,7%, com a economia portuguesa a beneficiar da recuperação do turismo e do consumo privado.
Contudo, resulta sobretudo do efeito da recuperação mais forte em 2021 e na primeira metade deste ano, que supera a revisão em baixa no segundo semestre de 2022, para o qual já prevê uma forte desaceleração.
No global, o crescimento em 2022 reflete, assim, em grande medida, o efeito 'carry-over' de 2021, mas também um contributo significativo das exportações e do consumo privado e um papel mais fraco do investimento, que cresce apenas 0,8%, contra 8,7% em 2021.
Esta é a primeira vez desde 2016 que o consumo privado, que o BdP prevê subir 5,5%, cresce acima do investimento.
A pesar na taxa de investimento está, aponta a instituição, as restrições da oferta, os aumentos dos custos de produção, o agravamento das condições de financiamento, a baixa execução dos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e a elevada incerteza.
O regulador estima ainda um crescimento das exportações de 17,9% e das importações de 10,8%.
O supervisor alerta, contudo, que a incerteza em torno das projeções é "elevado", com os impactos económicos mais adversos decorrentes da guerra na Ucrânia a representarem o principal risco.
"A deterioração das perspetivas de curto prazo para a economia portuguesa está associada às repercussões da invasão da Ucrânia --- a necessidade de racionamento de energia na Europa durante o inverno, a manutenção de preços elevados deste tipo de matérias-primas e o aumento da incerteza", refere.
O BdP destaca ainda que "o enquadramento externo e financeiro mais desfavorável e o choque sobre o poder de compra das famílias implicam uma evolução mais adversa do PIB nos próximos trimestres".
"Neste contexto, é urgente promover uma utilização efetiva e eficaz dos fundos do PRR e acelerar a prossecução das reformas no seu âmbito, o que contribuirá para inverter a desaceleração recente do investimento privado e público e sustentar a atividade económica no curto e no médio prazo", conclui.
[Notícia atualizada às 12h35]
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