Em entrevista à Lusa, o coordenador do Católica-Lisbon Forecasting Lab defende que os responsáveis do Banco Central Europeu (BCE) "andaram a dormir na forma" e "a tratar de outras coisas", o que "tem uma certa gravidade".
"Andam distraídos com outras coisas. Estão muito preocupados com a gestão política da sua situação, um discurso muito virado para dentro, muito preocupados em controlar os processos eleitorais em Itália... muito preocupados com temas políticos que não é para isso que temos o BCE", argumenta o professor da Católica-Lisbon School of Business & Economics, da qual foi diretor entre 1996-2001.
O economista, que foi professor na Columbia Business School em Nova Iorque e consultor económico do ex-Presidente da República Cavaco Silva, entre 2006 e 2016, e assessor económico do ex-primeiro-ministro Durão Barroso, entre 2002 e 2004, salienta que o mandato do BCE passa por garantir a integralidade do euro e não para gerir ciclos eleitorais.
"É o seu mandato. É para isso que aquela instituição existe, não para fazer acordos políticos, em que os governadores que são nomeados pelos países do Sul votam de uma maneira, os que são nomeados por países do Norte... Penso que isso está a descredibilizar o BCE e isso é um problema em si mesmo", vinca.
Para João Borges de Assunção, além das decisões, em causa está também a "frontalidade da comunicação", que no caso da Europa defende ter de ser a mais do que uma língua.
"Não é apenas a questão de saber se a trajetória de subida dos juros é a adequada, é também a forma como comunicaram à roda disso. É verdade que há uma parte da inflação que é transitória, é inequívoco. Portanto, essa parte desaparecerá mesmo que o BCE não faça nada. Mas não é verdade que toda a inflação seja transitória. E o BCE, na minha opinião, tinha a obrigação de encontrar um discurso que clarificasse isso e convinha clarificar não apenas em inglês e em Frankfurt", aponta.
Neste sentido, considera que "isso tinha depois de ser clarificado para cada um dos países e tinha de ser clarificado para os próprios governos".
Antecipando que o ritmo da subida dos juros pelo BCE poderá ser mais agressivo, Borges de Assunção assinala que Frankfurt "vai na prática imitar" a Reserva Federal norte-americana.
"Mas isso é também um sinal de fragilidade institucional", rematou.
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