As taxas de juro têm estado a subir, mas a verdade é que isso ainda não se reflete nos depósitos dos portugueses. O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, considera que isso vai acontecer à medida que evolui o processo de normalização.
"Penso que, à medida que o processo de normalização avance e que assuma outras dimensões que não apenas a da taxa de juro, poderemos ter também esse tipo de normalização no sector bancário", disse Centeno, em entrevista ao Público.
O governador do BdP sublinha que, "num contexto de normalização, isso deveria estar a acontecer" e acrescenta: "Esta medida é um passo adicional nessa direção. Ainda que se possa dizer que nenhum banco vai ter dificuldades de acesso a liquidez, porque não é disso que se trata e tudo será feito de forma voluntária, não havendo nada que impeça os bancos de manter aqueles níveis de liquidez, o que acontece é que deixam de ser remunerados como anteriormente".
Centeno diz que não combater inflação não é opção para o BCE
Sobre a inflação, Centeno considera que não combater a inflação não é uma opção para o Banco Central Europeu (BCE) e adianta que os custos de a manter elevada seriam ainda piores:
"A taxa de inflação está aí, ela tem de ser reduzida, a política monetária tem uma grande obrigação nesse domínio e não podemos desbaratar nem a credibilidade nem a oportunidade de a política monetária agir. Se o fizéssemos, o contrafactual, a alternativa que seria manter taxas de inflação elevadas, mesmo que sejam em parte justificadas pela guerra, tem um custo recessivo maior do que aquele que o aumento das taxas de juro provoca", acrescentou o governador do BdP.
Centeno recordou ainda que o "combate à inflação não é um exclusivo dos bancos centrais".
"É a grande função dos bancos centrais, mas, se ela for conduzida contra as restantes políticas ou contra os desenvolvimentos económicos, não vai ter sucesso", sentenciou o governador do Banco de Portugal.
Em 29 de outubro, o primeiro-ministro, António Costa insistiu na necessidade de o BCE ser prudente na linha de "normalização da política monetária" para combater a inflação, advertindo que uma recessão agravará a situação social na Europa.
No comunicado divulgado após a reunião do BCE, na semana passada, o BCE referiu que "espera continuar a subir" as taxas nos próximos meses "para assegurar o retorno atempado da inflação ao seu objetivo de 2% a médio prazo".
Os últimos dados divulgados indicaram uma taxa de inflação homóloga de 9,9% em setembro, na zona euro, muito longe dos 2% que o BCE fixou como meta.
O BCE já tinha decidido duas subidas das taxas de juro desde o início do verão, pondo fim a uma década de política monetária expansionista. Em julho começou com um aumento de 50 pontos base e em setembro acelerou para uma subida de 75 pontos base.
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