O relatório sobre indicadores económicos e financeiros de 2022 aponta consequências da conjuntura internacional na economia cabo-verdiana, nomeadamente ao nível da procura interna.
"No plano interno, os indicadores disponíveis apontam, igualmente, para uma evolução menos favorável da economia nacional no quarto trimestre. Os indicadores quantitativos acompanhados pelo BCV indiciam um abrandamento da procura interna em termos homólogos, relacionado essencialmente com a evolução menos favorável do investimento, conforme sugere a redução das importações de materiais de construção e de transportes", lê-se.
Acrescenta que o consumo "continua a dar sinais de alguma resiliência, tendo em conta o aumento que se verifica nas importações de bens de consumo não duradouros".
"Os indicadores apontam, igualmente, para uma contínua melhoria da procura externa líquida, relacionada com o aumento, ainda que mais moderado, da procura turística", refere ainda o banco central.
"O indicador de clima económico aponta para uma melhoria da confiança dos agentes económicos, determinado sobretudo pelo aumento da confiança dos operadores dos setores do turismo e transportes, que contrasta, no entanto, com alguma queda de confiança por parte dos operadores dos setores de comércio, construção e indústria, que indicam os preços de venda demasiado elevados, a insuficiência da procura, bem como as frequentes avarias nos equipamentos e falta de matérias-primas, como os principais constrangimentos da atividade nestes setores", acrescenta.
Nesta análise, o BCV conclui que o crédito à economia cresceu 5,3% em 2022, face a dezembro de 2021, "apresentando, contudo, um abrandamento", face ao crescimento de 6,1% registado no período do ano anterior.
"O processo de 'phasing-out' [retirada] gradual do serviço da dívida dos contratos de crédito sob o regime das moratórias que vigorou até finais de setembro de 2022, bem como a não concessão de créditos no âmbito das linhas de crédito covid-19 garantidos pelo Estado desde março de 2022, explicam a evolução do crédito à economia", refere ainda o relatório do banco central.
Cabo Verde recupera de uma profunda crise económica e financeira, decorrente da forte quebra na procura turística - setor que garante 25% do PIB do arquipélago - desde março de 2020, devido à pandemia de covid-19.
Em 2020, registou uma recessão económica histórica, equivalente a 14,8% do PIB, seguindo-se um crescimento de 7% em 2021 impulsionado pela retoma da procura turística. Para 2022, devido às consequências económicas da guerra na Ucrânia, nomeadamente a escalada de preços, o Governo cabo-verdiano baixou em junho a previsão de crescimento de 6% para 4%, que, depois voltou a rever, mas em alta, acima de 8% e já em dezembro para 10 a 15%.
Leia Também: Cabo Verde já tem mais empresas ativas do que antes da pandemia