"Sinto que esta instituição me enganou e que o Governo [suíço] não tem comunicado bem", disse o primeiro acionista a falar, realçando também que os gestores do Credit Suisse, banco com 167 anos de história, "descansaram sobre os louros dos últimos 15 anos".
Vincent Kauffmann, o diretor da Fundação Ethos, constituída por fundos de pensão suíços e por outros investidores institucionais, e que é um dos principais acionistas Credit Suisse, disse que "pediram em várias ocasiões para investigar as operações de risco" do banco e os seus "inúmeros escândalos", que em seu entender "arruinaram a sua reputação".
"Temos de garantir que os acionistas sejam compensados, da melhor maneira possível, pelas grandes somas de dinheiro perdidas e que o conselho [de administração] assuma a sua responsabilidade na crise", disse Kauffmann.
Os protestos de alguns acionistas durante a assembleia-geral assumiram diferentes formas, com um acionista a exibir "cascas de nozes vazias" para expressar o valor atual das ações do Credit Suisse, enquanto outro afirmava que os gestores do banco, "na Idade Média, [...) teriam sido crucificados".
"Há 25 anos, com uma ação do Credit Suisse a 80 francos suíços, poderíamos pagar um jantar num bom restaurante, mas agora (que vale menos de um franco suíço) não chega para um croissant", lamentou outro acionista.
O presidente do banco, Axel Lehmann, que abriu a reunião, pediu desculpa por não ter conseguido conter a crise do banco, respondeu, um a um, a todos os acionistas visivelmente agastados, após as suas intervenções.
"Vocês são os culpados disto. Culpados pelos danos causados ao país, pelos danos que continuarão a ser visíveis por algumas décadas", disse Francesco de Giorgio, outro acionista, que se mostrou "envergonhado por este desastre completo", por ser um antigo funcionário do banco e por ser agora um acionista.
Um representante da organização de investidores individuais Actares, descreveu a gestão do banco como um "fiasco", devido aos diversos riscos assumidos nos anos anteriores, que conduziram à sua crise final e à compra pelo UBS para evitar a sua falência.
Nas redondezas do Hallenstadion, em Zurique, onde se realiza a assembleia, também se ouviram protestos, e alguém colocou um barco quebrado numa posição que simulava o seu naufrágio, como símbolo da queda do Credit Suisse (cujo logótipo são as velas do um veleiro).
A assembleia-geral de acionistas também teve espaço para criticas no domínio ambiental, com uma representante de um grupo de acionistas a denunciar que o Credit Suisse investiu num projeto de extração de gás no Texas, nos Estados Unidos, que irá prejudicar o turismo, a pesca, e afetar as "terras sagradas" dos povos nativos.
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