"Passaram de caravelas à pressa para o 'privatize-se já'. [...] É a maneira mais fácil de passar um pano por cima do que escorreu ao longo de todos estes anos e que ultrapassa bem o meio milhão de euros", afirmou o dirigente do Sindicato dos Aeroportos de Manutenção e Aviação (STAMA), na comissão de inquérito à TAP, aludindo à indemnização de 500.000 euros paga à ex-administradora Alexandra Reis, que esteve na base da constituição da comissão parlamentar de inquérito.
Questionado pelo deputado social-democrata Paulo Moniz sobre a ingerência política na companhia aérea, João Varzielas destacou que que o anterior ministro Pedro Nuno Santos, que se demitiu na sequência da polémica indemnização, "foi o único" que disse ao sindicato, "sem peneiras", quais eram os objetivos do plano de reestruturação.
"Isso lhe agradeço, a honestidade. Não quer dizer que concorde [com os objetivos]", sublinhou o sindicalista, apontando uma falta de comunicação com a gestão da empresa "e com mais ninguém".
No entanto, o sindicalista considerou que, o "desnorte criado" no "processo megalómano" criou "uma disfuncionalidade em que, a páginas tantas" a situação podia ser comparada com o "tempo dos coronéis no Brasil, em que toda a gente está a mandar e ninguém percebe quem".
João Varzielas disse que, "para já", o STAMA não vê com bons olhos uma privatização, lembrando que o processo de venda a privados em 2015 não salvaguardava "de maneira nenhuma" a permanência do 'hub' [plataforma giratória de distribuição de voos] em Lisboa.
"Até porque dificilmente isso será garantido legalmente, seja por quem for. [...] O capital manda e ponto final", considerou, ressalvando que, conforme tem sido avançado na comunicação social, "se fosse a Ibéria [a comprar] seria muito perigoso, e se fosse a Lufthansa era igualmente muito perigoso, porque a TAP correrá certamente o risco de ver a sua frota de médio curso a desaparecer e ficar só com longo curso".
Quanto às medidas do plano de reestruturação, o STAMA considerou que podia ter havido outro tipo de intervenção, com menos custos para os trabalhadores.
Questionado pelo deputado Bernardo Blanco, da IL, sobre as justificações dadas aos sindicatos para o nível de cortes aplicados aos trabalhadores e que, segundo um documento referido na quarta-feira por outros sindicatos, não foi uma imposição da Comissão Europeia, Varzielas defendeu que "não havia necessidade" de cortes "naquela ordem de grandeza".
"Fazem-se este tipo de coisas para mostrar o 'filé mignon' a quem vem comprar", acrescentou, apontando que " os trabalhadores da TAP são uns mãos largas, ao longo dos anos, para salvar a própria TAP dos desaires de gestão".
Já sobre a SPDH Groundforce e a Cateringpor, negócios a alienar no âmbito do plano de reestruturação, o sindicalista disse que Portugal "costuma ser bom aluno" e "faz aquilo que Bruxelas quer", mas há outras companhias europeias que não o fazem.
"No caso da Ibéria e da British Airways, a solução que encontraram para capitalizar o 'handling', mas nunca desagregando da companhia mãe, foi aceite pela União Europeia. Não se percebe, era possível, à data, percorrer esse caminho, salvaguardando um serviço de excelência, de que a TAP necessita", defendeu.
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