Subida das taxas de juro? "Estamos muito próximos de 'pausar'"

A partir da caixa forte do Museu do Dinheiro, Centeno assinalou que esta foi a "primeira vez" que o processo de subida das taxas de juro foi a resposta generalizada pelos vários bancos centrais, confessando não estar preocupado com os preços "de outubro", mas sim "com os preços daqui a 18, 24 meses".

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© Jose Sarmento Matos/Bloomberg via Getty Images

Daniela Filipe
28/06/2023 23:51 ‧ 28/06/2023 por Daniela Filipe

Economia

Mário Centeno

No mesmo dia em que os governadores dos bancos centrais europeu, inglês, japonês e o presidente da Fed, dos EUA, alertaram para a persistência da inflação, dando indicação de potenciais novas subidas de juro, o governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, apontou que a política monetária na zona Euro está "muito próxima" de poder "pausar" essas subidas, ressalvando que, para isso, é necessário que os bancos centrais combatam "quaisquer desvios".

"Estamos a chegar ao momento em que a política monetária na área do euro poderá pausar em termos de subida das taxas. Estamos muito próximos. […] Decidimos de reunião em reunião e sempre baseados nos dados que vamos tendo. As últimas previsões, no essencial, confirmaram que a inflação está a cair e esse processo de queda da inflação, que é o objetivo do Banco Central Europeu (BCE), é sustentável", começou por dizer o antigo ministro das Finanças, em declarações ao programa Grande Entrevista, da RTP3.

O responsável esclareceu que isto significa que, em 2025, a inflação estará "essencialmente no objetivo traçado pelo BCE" de 2%, mas é necessário estar "alerta do lado da política monetária, porque devemos combater quaisquer desvios".

"A grande preocupação dos decisores políticos na área da política monetária é encontrar todos os sinais de sustentabilidade na redução da inflação. A política monetária tem como grande mandato o controlo dos preços. Foi uma conquista muito significativa de todos os bancos centrais muito recente e temos de a levar muito a sério, porque a inflação é um problema coletivo, não é um problema dos bancos centrais", indicou, complementando que "o controlo dos preços é absolutamente essencial para a planificação a médio e a longo prazo das nossas vidas, [porque] a inflação corrói a poupança".

A partir da caixa forte do Museu do Dinheiro, Centeno assinalou que esta foi a "primeira vez" que o processo de subida das taxas de juro foi a resposta generalizada pelos vários bancos centrais, confessando não estar preocupado com os preços "de outubro", mas sim "com os preços daqui a 18, 24 meses".

"Sabemos que esse mecanismo pelo qual a subida das taxas de juro tem efeito nas nossas vidas atua muito do lado da procura, e tenta reprimir o consumo; tem impacto, obviamente, no investimento a médio prazo. Portanto, este efeito desfasado no tempo tem de ser acautelado pelos bancos centrais. Temos de ter a perceção de que decidimos hoje para controlar no médio prazo os preços", explicou, argumentando que "é preciso acautelar que este efeito na economia não exceda o mínimo necessário para controlar os preços, porque sabemos que esta repressão do consumo e da procura em geral deprime a economia e, muitas vezes, implica recessão".

Ainda assim, o governador do BdP assinalou que "estamos num momento em que há uma estagnação generalizada da economia na União Europeia", destacando que o caso português, "nos últimos trimestres, tem sido uma exceção", principalmente tendo em conta a pandemia da Covid-19 e o impacto da guerra na Ucrânia.

"Passámos por dois choques, em muito pouco tempo, de enorme dimensão. A forma como na Europa, mas em particular em Portugal, reagimos a esses choques foi, do ponto de vista da sua natureza e da tipificação que fazemos dessa reação, a melhor reação que alguma vez tivemos num momento de crise", disse.

E prosseguiu: "É importantíssimo que a reversão dos choques se faça sentir nos preços ao consumidor. Se os mercados ficarem com essa margem, não vamos sentir essa reversão desses choques, a política monetária não vai poder pausar, e vamos todos sofrer as consequências desse falhanço que seria não refletir nos preços a reversão dos choques que originaram o aumento dos preços."

Recorde-se que, esta quarta-feira, a presidente do BCE, Christine Lagarde, alertou para o facto de o processo inflacionista se estar a tornar mais persistente, tendo sinalizado que as taxas deverão manter-se altas.

Descartou, por isso, que num futuro próximo o banco central declare que a taxa máxima foi atingida, tendo dado também conta do impacto que a contribuição que a subida das margens das empresas teve na inflação, que entrou agora numa fase em que os aumentos salariais também estão a pressionar os preços.

[Notícia atualizada às 00h04]

Leia Também: Euribor "vão continuar a subir" podendo começar a recuar no final do ano

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