Inflação? "Não tem havido a suficiente compreensão por parte do BCE"

Primeiro-ministro criticou posição do BCE sobre inflação, defendendo que não "compreender a natureza específica" do ciclo inflacionista "limita muito a capacidade de o enfrentar". "Se não acertamos bem no diagnóstico, a terapia raramente acerta", criticou.

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Carmen Guilherme
29/06/2023 12:19 ‧ 29/06/2023 por Carmen Guilherme

Economia

António Costa

O primeiro-ministro, António Costa, mostrou-se, esta quinta-feira, em desacordo com Christine Lagarde, acusando o Banco Central Europeu (BCE) de não compreender a "natureza" do ciclo inflacionista. De realçar que a presidente do BCE considerou que a inflação é consequência do aumento dos salários.

"O BCE tem uma política soberana na definição da política monetária. Acho que não tem havido a suficiente compreensão por parte do BCE da natureza especifica do ciclo inflacionista que temos estado a viver", começou por dizer o primeiro-ministro em declarações aos jornalistas, em Bruxelas, à margem do Conselho Europeu, referindo que também não tem sido tido em "devida conta quais são os fatores que têm alimentado esta tensão inflacionista". 

"O aumento de lucros extraordinários tem contribuído mais para a manutenção da inflação do que as subidas salariais. E não compreender a natureza específica deste ciclo inflacionista... acho que limita muito a capacidade de o enfrentar porque, se não acertamos bem no diagnóstico, a terapia raramente acerta", criticou.

Por isso, Costa disse esperar, tal como anunciou o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, "que a partir de setembro possamos começar a retomar uma trajetória de política monetária mais adequada àquilo que é fundamental, que é salvaguardar as condições de vida das famílias, a capacidade das empresas investirem e da Economia continuar a crescer e a gerar empregos que gerem salários melhores".

O primeiro-ministro garantiu ainda que o Governo tem vindo "a adotar um conjunto de medidas", nomeadamente o apoio à renda, que começou a ser pago na semana passada a 185 mil famílias. Além disso, lembrou que em julho haverá um aumento intercalar da pensões de reforma e que no mês passado houve um aumento intercalar dos salários da Função Publica.

"Desde 2015 até agora houve uma redução de IRS em cerca de 2 mil milhões de euros ano das famílias portuguesas", acrescentou ainda, lembrando que na última campanha eleitoral "um dos temas mais debatidos", era qual seria a "prioridade na redução dos impostos".

"A proposta do PS, que ganhou, era muito clara: a prioridade era a redução do IRS, ao contrário do PSD, que defendia a redução do IRC como prioridade", afirmou. "Aquilo que nós temos vindo a fazer é cumprir aquilo que foi o compromisso que assumimos. Portanto, o IRS já baixou em 202, baixou em 2023 e já anunciámos que vamos prosseguir a redução dos imposto até ao final da legislatura", continuou.

Costa aproveitou e lançou ainda uma 'farpa' à oposição: "Para termos uma noção de grandeza, aquilo que o PSD propunha na ultima campanha eleitoral era uma redução eventual para 2025 ou 2026 de cerca de 400 milhões de euros na redução de impostos. Quer dizer, essa já fizemos e o que vamos fazer até ao final da legislatura é o dobro daquilo que PSD propunha na última campanha eleitoral".

"Os partidos, quando apresentam programas aos cidadãos nas eleições, têm de perceber que é o contrato que fazem com os cidadãos. Ora, o contrato que foi feito com os cidadãos é aquele que consta do programa eleitoral do PS e que, naturalmente, é hoje o programa do Governo e é esse que estamos a executar", reforçou, dizendo que o Executivo vai "prosseguir esta trajetória de redução dos impostos sobre os rendimentos do trabalho", bem como a política de redução do IVA da restauração, mas também do cabaz 'IVA Zero', do qual faz uma "avaliação positiva" no impacto que "tem tido na contenção do aumento do preço dos bens alimentares".

Recorde-se que, na abertura do Fórum BCE, que terminou na quarta-feira, em Sintra, a presidente do BCE alertou que o processo inflacionista se está a tornar mais persistente e sinalizou que as taxas se deverão manter altas, descartando que, num futuro próximo, o banco central declare que a taxa máxima foi atingida.

Lagarde também alertou para o impacto que a subida das margens das empresas teve na inflação, referindo que os aumentos salariais também estão a pressionar os preços.

[Notícia atualizada às 12h58]

Leia Também: PSD diz que ida de Costa para UE é 'fait diver' para desviar atenções

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