"Nada disto me surpreende, nem propriamente os valores me surpreendem, a preocupação que eu tenho, como diretor sindical, e como trabalhador de grupo TAP, é que a decisão [de exonerar a gestora] tenha sido a acertada e que não tenha sido mais um ato de gestão, mais um ato de impulsividade, que apenas prejudica a companhia", disse à Lusa o dirigente sindical, que representa os tripulantes de cabine da transportadora.
Para Ricardo Penarroias é preciso analisar "duas situações paralelas", que passam por aferir se "a antiga CEO tinha naquela altura condições para se manter no cargo", tendo em conta o contexto, mas também por perceber "se havia razões e motivos legais para sair", destacando que o sindicato não tem "dados nem fundamentos" para tirar conclusões.
"Mas o que nós alertamos desde o início é que se houve motivos, se houve razões para tal, esperamos nós que estas razões" não tenham sido "mais uma vez um ato de má gestão", indicou.
A ex-presidente executiva da TAP, Christine Ourmières-Widener, deu entrada com um processo cível contra a empresa e exige cerca de 5,9 milhões de euros, segundo o portal Citius.
De acordo com a informação avançada pelo jornal ECO e confirmada pela Lusa na plataforma eletrónica dos tribunais, a ação dos advogados de Christine Ourmières-Widener deu entrada na terça-feira e foi distribuída hoje ao juiz 3 do Juízo Central Cível de Lisboa, apontando como réus as empresas TAP SGPS e a TAP S.A.
Contactada pela Lusa, a advogada da antiga presidente executiva, Inês Arruda, reiterou a informação disponibilizada no Citius, evitando, por agora, fazer mais comentários: "Confirmo que foi dada entrada a ação contra a TAP e que o valor da ação é esse [5,9 milhões de euros]".
A Lusa pediu um comentário à TAP e aos ministérios das Infraestruturas e das Finanças. O ministério das Finanças, liderado por Fernando Medina, já respondeu que não vai comentar e aguarda resposta da companhia aérea.
Hoje, no final do Conselho de Ministros, a ministra da Presidência referiu que o Governo está "muito confortável" com o despedimento da ex-presidente executiva da TAP defendendo que o relatório que sustentou a decisão era inequívoco.
A ex-CEO da companhia aérea disse em 04 de abril, na audição na comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, que tinha de recuperar a honra e a reputação de 30 anos na indústria da aviação e que rejeitou demitir-se, como sugerido em reunião com Medina, porque nada tinha feito de errado.
"06 de março foi o pior dia da minha vida, por isso, sim, vou tentar reparar a minha honra, com a reputação global que tenho nesta indústria", afirmou Christine Ourmières-Widener.
A antiga CEO da TAP foi então perentória: "Ter dois ministros a demitir-me com justa causa está a arruinar a minha reputação, perante a minha família, os meus filhos e amigos. Tenho de o fazer".
O Governo anunciou a exoneração de Christine Ourmières-Widener e do presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja, em 06 de março, depois de divulgados os resultados de uma auditoria da Inspeção-Geral das Finanças (IGF), que concluiu que o acordo para a saída da antiga administradora Alexandra Reis é nulo e que grande parte da indemnização (de perto de meio de milhão de euros) teria de ser devolvida.
A polémica começou no final de dezembro de 2022, altura em que o Correio da Manhã noticiou que a então secretária de Estado do Tesouro tinha recebido uma indemnização de cerca de 500.000 euros para sair dois anos antes do previsto da administração da empresa.
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