O Governo anunciou hoje descontos nas portagens das autoestradas, principalmente nas ex-SCUT (Portagens Sem Custos para o Utilizador), designadamente na A22 (Via do Infante/Algarve), a A23 (Beira Interior), a A24 (Interior Norte), a A25 (Beiras Litoral e Alta), a A4 (Túnel do Marão), a A13 e A13-1 (Pinhal Interior).
Segundo o Ministério da Coesão Territorial, o desconto de 30% aplica-se aos veículos ligeiros de passageiros (classe 1) e as viaturas das restantes classes, como veículos pesados de passageiros e de mercadorias, vão beneficiar de um desconto de 13% no período diurno, mantendo-se os valores atuais no período noturno.
"É lamentável não prestarem a devida atenção aos empresários do Interior porque, neste momento, estão a passar por grandes dificuldades. Todas as ajudas que os governos puderem dar aos empresários são positivas, porque são eles que fazem com que a economia cresça", afirmou à agência Lusa Mauro Gonçalves, da Associação dos Industriais do Granito (AIGRA), com sede em Vila Pouca de Aguiar.
O representante destas empresas que, diariamente, têm camiões a circular nas autoestradas, nomeadamente da A24, que liga Viseu e a fronteira de Vila Verde de Raia, no município de Chaves, disse que esperava que o Governo "pudesse ter ido um pouco mais longe" nos descontos nas portagens, que representam um "custo elevado para este setor".
E, acrescentou, que também esperava que "olhasse para as empresas com a devida atenção, porque estão a passar um período muito difícil".
"Temos uma recessão à porta e uma recessão que já se está a sentir principalmente na Alemanha e que vai arrastar um conjunto de países. As perspetivas para 2024 não são nada animadoras e precisávamos de um pouco mais de oxigénio ou de uma energia mais positiva por parte do Governo", salientou.
O responsável destacou que, neste momento, aquilo que mais peso tem nas contas das empresas de granito são "os combustíveis".
"Há muito tempo que vamos pedindo gasóleo profissional, contudo o nosso pedido não tem surtido efeito. Em Espanha temos o gasóleo profissional e em Portugal continuamos a não ter. Muitas vezes queremos competir com os nossos colegas espanhóis e é difícil, porque eles têm combustíveis mais baratos. Essa é a maior dificuldade que temos no nosso setor", frisou.
A AIGRA tem 30 empresas associadas, 20 das quais se dedicam à extração de granito.
"É uma medida que já vem tarde, mas é sempre bem-vinda", afirmou à agência Lusa o presidente da Associação Empresarial de Vila Real -- Nervir, Mário Rodrigues.
Para este responsável, esta medida de redução das portagens representa uma "discriminação positiva" que "há muito tempo" era reclamada por empresas e utentes das autoestradas que cruzam a região.
"Permite, em primeiro lugar, que se poupe dinheiro, quer os trabalhadores quer as empresas, e vai permitir, sem dúvida, aumentar também o tráfego nestas ex-SCUT", apontou, salientando que o valor cobrado atualmente aplicado "é muito elevado".
Mário Rodrigues disse que os custos das portagens mais dos combustíveis "são muito altos" e representam uma fatura elevada para as empresas do Interior, onde os rendimentos per capita são mais baixos face a outras regiões.
A Nervir conta com 280 associados de vários ramos de atividade.
As vias Sem Custos para o Utilizador foram criadas no final da década de 1990, durante o Governo de António Guterres.
A criação destas estradas foi polémica, pois os encargos da sua utilização recaíam no Estado, mas, em 2010, o então primeiro-ministro, José Sócrates, aprovou a introdução de portagens nas concessões SCUT.
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