No documento de suporte à proposta do Plano Económico e Social do Orçamento do Estado (PESOE) para 2024, a que a Lusa teve hoje acesso, o Governo afirma que a produção da grafite "vai aumentar significativamente" no próximo ano, em relação às projeções de 2023.
Para a estimativa, lê-se no documento, foram considerados os planos das duas empresas de produção deste mineral, apesar de até ao primeiro semestre de 2023 estar "com uma realização de 22%", devido à "fraca demanda deste minério no mercado internacional", o que levou a Twigg Mining and Exploration [subsidiária da Syrah Resources Limitada], maior produtora, "a interromper temporariamente as suas atividades de mineração e processamento nos meses de maio e junho".
A estimativa de produção de 329.040 toneladas de grafite em 2024 representa um aumento de 180,2% face ao esperado para este ano, segundo os dados do Governo incluídos no relatório, que vai ser discutido e depois votado na VIII sessão ordinária parlamentar, que decorre em Maputo de 19 de outubro a 21 de dezembro.
Moçambique produziu 120.000 toneladas de grafite em 2020, desempenho que caiu para 77.116 toneladas no ano seguinte, enquanto as estimativas para 2022 e 2023 foram, respetivamente, de 182.024 e 117.416 toneladas.
O Ministério dos Recursos Minerais e Energia moçambicano admitiu, no final de agosto, que a decisão da empresa mineira australiana Syrah de suspender a produção de grafite no país compromete as metas de quantidades e receitas que o Estado tinha projetado.
A mineira australiana Syrah anunciou em 18 de julho que produziu em abril 15 mil toneladas de grafite para baterias de carros elétricos, que exporta do distrito de Balama, província de Cabo Delgado, norte de Moçambique, tendo interrompido no mês seguinte a produção devido aos 'stocks' e preços nos mercados internacionais.
"As operações da fábrica de Balama [Nacala/Pemba] foram interrompidas, resultando em nenhuma produção em maio e junho de 2023, devido à volatilidade no mercado chinês de ânodo e à boa disponibilidade de 'stock' de produtos acabados", lê-se no relatório de atividade do segundo trimestre, divulgado pela Syrah e no qual estima custos de quatro milhões de dólares (3,5 milhões de euros) por cada mês de encerramento naquela unidade.
Em declarações à Lusa, o diretor nacional de Geologia e Minas de Moçambique, Cândido Rangeiro, assinalou que a medida poderá comprometer as projeções na produção de grafite deste ano e as receitas para o Estado geradas por este minério.
Sem especificar números, avançou que o impacto poderá ser "considerável", tendo em conta que a Syrah é o maior produtor de grafite em Moçambique, à frente da GK, que explora este recurso no distrito de Ancuabe, também em Cabo Delgado.
"Esta empresa [GK] não nos comunicou qualquer paragem, talvez porque produz para uma empresa-mãe que está na Alemanha", e não instruiu a sua filial em Moçambique sobre qualquer decisão sobre a sua operação no norte, acrescentou.
A mina de Balama iniciou a produção comercial há quatro anos e foi destaque em dezembro, quando a Syrah anunciou um acordo com a multinacional de veículos elétricos Tesla, que pretende usar a grafite da mina, descrita como um dos maiores depósitos deste tipo de minério "de qualidade" no mundo pela própria companhia australiana.
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