Israel. Conflito pode agravar arrefecimento da economia, diz economista
A escalada do conflito entre Israel e o Hamas pode levar ao arrefecimento da economia mundial, devido ao aumento do preço do petróleo e adiamento de investimento e consumo, afetando também Portugal, segundo os economistas consultados pela Lusa.
© Ahmad Hasaballah/Getty Images
Economia Israel/Palestina
Depois de enfrentar uma pandemia e o início da guerra na Ucrânia, a economia mundial está ainda em recuperação, que poderá agora ficar afetada por um novo conflito internacional.
"O atual conflito entre Israel e o Hamas, que eclodiu na semana passada, poder-se-á agudizar e impactar negativamente a economia mundial se passar de um conflito confinado à faixa de Gaza a uma guerra regional gradualmente mais ampla, arrastando diretamente países vizinhos para o conflito, afetando, desse modo, não só a produção de crude, mas sobretudo o transporte de petróleo no golfo pérsico via estreito de Ormuz", explica o economista sénior do Banco Carregosa Paulo Rosa.
O economista recorda que por este estreito passam diariamente cerca de 21 milhões de barris de petróleo, cerca de 20% do consumo diário global, o que torna o estreito de Ormuz "o 'corredor' energético e o ponto de estrangulamento mais importante do mundo, sobretudo para o petróleo, mas também para o gás natural liquefeito".
O estreito é, segundo o economista, uma 'arma estratégica' para o Irão, que numa escalada da tensão que levasse a um conflito direto entre Israel e o Irão, fornecedor de armas e dinheiro ao Hamas, teria ainda mais impacto para a economia.
"A economia europeia, ainda muito dependente dos combustíveis fósseis importados, seria consideravelmente afetada num cenário de guerra direta entre Irão e Israel. Apesar da intensificação do processo de transição energética nos últimos anos (objetivo de neutralidade carbónica em 2050) e da procura por segurança energética desde a eclosão da guerra na Ucrânia, a Europa e Portugal ainda são muito dependentes do petróleo", prevê.
O diretor do gabinete de estudos do Fórum para a Competitividade, Pedro Braz Teixeira, sublinha que "há inúmeras incertezas envolvendo este conflito, desde logo a sua duração e o seu perímetro".
"Há potências, em particular a Rússia e o Irão, que gostariam de o ver alastrar e isso é um risco significativo. A incerteza pode ter um impacto direto de adiamento de decisões de investimento e de consumo, abrandando o PIB [Produto Interno Bruto] mundial", considera.
O economista aponta ainda "a eventual utilização da arma energética (a região concentra os principais exportadores de petróleo), fazendo subir os seus preços, pode ter também um efeito negativo sobre o PIB, dificultar ou mesmo inverter a descida da inflação, e adiar a esperada descida de taxas de juro para 2024".
Para Pedro Braz Teixeira, o conflito poderá traduzir-se em "menos PIB, mais inflação, taxas de juro mais elevadas do que o esperado".
O aumento do preço do petróleo teria também impacto para a economia portuguesa, quer através das exportações, quer do consumo.
"As taxas de juro irão afetar o consumo privado e o investimento, enquanto a deterioração do PIB mundial deverá degradar as perspetivas para as nossas exportações. Todos estes efeitos são negativos, restando saber a sua amplitude, que dependerá da intensidade da subida dos preços da energia (e também do gás natural)", refere Pedro Braz Teixeira.
Paulo Rosa recorda que, na proposta do Orçamento do Estado para 2024 (OE2024), o Governo prevê uma cotação do petróleo de 81 dólares por barril no próximo ano, comparando com valores previstos de 83 dólares para 2023.
"Um cenário em que o preço do petróleo se situe 20% acima do assumido no cenário base, ou seja, um aumento para perto dos 100 dólares, teria um efeito negativo de 0,1 pontos percentuais no crescimento do PIB em 2024", assinala.
Segundo o OE2024, tal reflete um menor crescimento do consumo e do investimento, parcialmente mitigado pela redução no crescimento das importações.
"Todavia, uma eventual escalada do preço do petróleo, com a entrada direta do Irão no conflito, o efeito no PIB português tenderia a ser exponencial e dificilmente Portugal escaparia de uma recessão com o petróleo nos 150 dólares", alerta Paulo Rosa.
O grupo islamita Hamas lançou no sábado passado um ataque surpresa contra Israel com o lançamento de milhares de foguetes e a incursão de milicianos armados por terra, mar e ar.
Em resposta, Israel bombardeou a partir do ar várias infraestruturas do Hamas na Faixa de Gaza e impôs um cerco total ao território com corte de abastecimento de água, combustível e eletricidade.
Os ataques já provocaram milhares de mortos e feridos nos dois territórios.
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