"Um dos nossos empresários transportava a sua mercadoria para Quissanga. Com a situação da estrada o carro enterrou, pediu socorro no distrito, o socorro ajudou-o, mas infelizmente ao longo do troço de Quissanga cruzou-se com insurgentes. Não foi queimada a mercadoria, não foi queimado o carro, mas tiraram-lhe valores. Pelo carro com mercadoria cobraram-lhe 100 mil meticais e pelo trator 50 mil meticais", lamentou Mamudo Irache, em declarações à Lusa.
Detalhou que os terroristas intercetaram o empresário na manhã de sexta-feira e obrigaram-no a pagar ao todo 2.180 euros para poder seguir viagem.
Mamudo Irache alerta que o regresso destes ataques, que se verificam desde 2017, mas tiveram um período de acalmia nos últimos meses de 2023, pode contribuir para o retrocesso do processo de retoma da economia de Cabo Delgado.
"É um grande prejuízo. Imagine um empresário que primeiro sofreu do ciclone Kenneth, veio a sofrer dos ataques, no mesmo distrito, e hoje ele está a tentar recuperar para poder ajudar a sua comunidade, e aparecem indivíduos a retirar aquilo que o empresário conseguiu na retoma das atividades", lamentou.
Após ser deixado pelos insurgentes, o empresário vítima deste ataque acabou por procurar refúgio no vizinho distrito do Ibo, receando novos ataques, relatou ainda Mamudo Irache.
"Com esses movimentos, o empresário, para salvar a vida dele, salvar a vida dos trabalhadores, vai preferir sair. E se sai o distrito já era. E isso não queríamos que acontecesse, por isso fizemos grande esforço para retomarmos as nossas atividades", concluiu.
Nas últimas semanas têm sido relatados casos de ataques de grupos insurgentes em várias aldeias e estradas de Cabo Delgado, inclusive com abordagens a viaturas, rapto de motoristas e exigência de dinheiro para a população circular em algumas vias.
O grupo extremista Estado Islâmico (EI) reivindicou na quarta-feira a autoria de um ataque terrorista em Macomia, em Cabo Delgado, e a morte de pelo menos 20 pessoas. Tratou-se de um dos mais violentos ataques em vários meses.
Através de canais de propaganda, o grupo terrorista documentou o ataque a uma posição das forças armadas moçambicanas, levando material bélico, e reivindicou ainda outro ataque em Chiúre.
Contudo, o administrador distrital de Macomia, Tomás Badae, confirmou na segunda-feira que os grupos de insurgentes que atuam em Cabo Delgado atacaram uma posição das Forças de Defesa e Segurança (FDS) no distrito.
O ataque aconteceu entre a noite de sexta-feira e a madrugada de sábado passado, entre 23:00 e 03:00 (21:00 e 01:00 em Lisboa), no posto administrativo de Mucojo, a 45 quilómetros da sede distrital de Macomia: "Tomaram, sim, a posição e assaltaram-na, mas não temos mais informação se ainda estão lá ou já abandonaram".
Na terça-feira foi confirmado o ataque, também agora reivindicado pelo EI, no distrito de Chiúre, com a destruição de várias infraestruturas e igrejas.
O ataque começou por volta das 17:00 (15:00 de Lisboa) de segunda-feira e prolongou-se até quase à meia-noite.
O alvo foi a sede do posto administrativo de Mazeze, no interior do distrito de Chiúre, onde os rebeldes atearam fogo ao hospital, à secretaria do posto administrativo e à residência da chefe do posto administrativo, avançou o administrador distrital de Chiúre.
"As infraestruturas estão basicamente destruídas", disse Oliveira Amimo, acrescentando que os rebeldes destruíram a capela pertencente à Igreja Católica.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos alguns ataques reivindicados pelo EI, o que levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com apoio do Ruanda e da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos do gás.
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