A Oferta Pública de Aquisição do BBVA sobre o Sabadell era inicialmente voluntária, mas o Sabadell rejeitou-a e passou a hostil (uma OPA hostil na banca espanhola já não acontecia há 40 anos). A contrapartida oferecida pelo BBVA é de uma ação sua por 4,83 ações do Sabadell, avaliando o banco que quer comprar em quase 12.000 milhões de euros.
Se a OPA tiver sucesso, a fusão dos dois bancos criaria uma entidade com perto de um bilião de euros em ativos, 135.462 trabalhadores em todo o mundo (dos quais 19.213 do Sabadell) e uma rede de mais de 7.000 agências. Seria dos principais bancos europeus e ultrapassaria o CaixaBank (dono do português BPI) em ativos, posicionando-se como o segundo maior banco de Espanha em ativos.
Já a eventual absorção do Sabadell pelo BBVA diluiria ainda mais o peso bancário da Catalunha. Na região da Catalunha, a fusão destes bancos deixaria 85% das agências nas mãos de três grandes bancos (Caixabank, BBVA/Sabadell e Santander).
Esta operação acendeu o debate económico e político em Espanha.
O Governo espanhol repudiou a OPA hostil do banco com origem em Biscaia (País Basco) sobre o banco de origem catalão (em 2017 mudou a sede para Alicante, na Comunidade Valenciana, por causa do processo pela independência da Catalunha) desde logo por causa da excessiva concentração do setor bancário e fez saber que disse o mesmo ao Banco Central Europeu (numa reunião com a presidente do Conselho de Supervisão, Claudia Buch). Avisou ainda Madrid que "tem a última palavra" relativamente à fusão que se seguiria ao sucesso da OPA.
Também os Governos regionais da Catalunha e da Comunidade Valenciana manifestaram oposição total partilhando os mesmos argumentos, de que a OPA destrói valor, trabalho, território e concorrência.
Na mesma linha, empresários catalães têm-se mostrado contra os planos do BBVA por temerem o fim de um banco de 143 anos que historicamente tem financiado a economia catalã. A perda do Sabadell cria receios, na Catalunha, de perda de um dos seus centros de decisão.
Citadas pelo El Pais, a patronal catalã Foment del Traball considera que com o desaparecimento do Sabadell muitos comércios e pequenas e médias empresas "ficariam orfãs de financiamento" e a organização empresarial Pimec disse que a operação "não só reduz a oferta do mercado como põe em risco a estabilidade financeira do país".
Contudo, o Banco Sabadell enfrenta a OPA fragilizado por ter o seu capital muito disperso e sem um acionista de controlo, o que dificulta a sua capacidade de reunir um grupo significativo de investidores que resistam.
Gestores do banco já estiveram em visitas a investidores para explicarem as decisões do Conselho de Administração e dar conta da capacidade do banco em continuar sozinho o seu caminho e pagar bons dividendos aos acionistas.
Nenhum dos acionistas tem atualmente mais de 4% do banco. O fundo americano BlackRock é o principal acionista do Sabadell, com 3,62%. A agência de informação financeira Bloomberg noticiou que o segundo maior acionista, o multimilionário mexicano David Martínez (com 3,49% do capital), apoia a OPA.
O Sabadell já enviou uma carta aos pequenos acionistas em que indica que terão tempo de tomar uma decisão uma vez que a OPA ainda durará provavelmente até final de 2024 ou mesmo 2025.
A redução de agências e de trabalhadores também tem levantado preocupações, desde logo nos sindicatos.
O presidente do BBVA, Carlos Torres, já admitiu que a fusão pode levar a "uma redução do emprego num primeiro momento", mas será feita "sempre através do diálogo e sem medidas traumáticas".
A última grande fusão em Espanha foi do CaixaBank e do Bankia, formalizada em 2021, na qual foi acordada uma redução de 6.542 pessoas (saíram por rescisões por acordo e reformas antecipadas).
Torres insistiu, ainda assim, que "o valor para os trabalhadores é claro" pois estarão numa entidade maior e mais sólida.
O BBVA teve lucros históricos de 8.000 milhões de euros em 2023. O banco tem forte presença na América Latina e quase metade dos lucros foram conseguidos no México.
O Sabadell teve em 2023 lucros de 1.332 milhões de euros, também os maiores de sempre.
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