"Não passa pela cabeça de ninguém subestimar o investimento no setor. É nessa linha que vos convido a refletir sobre a descapitalização de um grupo empresarial, a retirada de fundos próprios de capital de um grupo charneira", disse aos deputados da Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública.
Segundo o gestor, há 220 operadores de água no país, mas a AdP tem "responsabilidade acrescida" e "do ponto de vista estratégico, não faz sentido descapitalizar o grupo AdP perante as responsabilidades de investimento que tem".
"Não faz sentido nesse contexto de exigências, em que se está a necessitar de convencer o mercado [para obter financiamento], dizer que o acionista acabou de tirar o dinheiro", destacou.
O ex-presidente do grupo respondia a questões dos deputados sobre a um pedido do Ministério das Finanças, nessa altura liderado por Fernando Medina, para distribuição de 100 milhões de euros em dividendos no final do ano passado.
José Furtado revelou ainda que o primeiro pedido da tutela foi de 150 milhões de euros, ao qual a gestão contrapôs com cerca de 55 milhões de euros, que corresponderia a dois anos de dividendos do grupo, seriam devidos ao acionista no futuro. Implicava que não houvesse dividendos nas assembleias-gerais seguintes, mas a solução não foi aceite.
O gestor falou depois com o então primeiro-ministro, António Costa, tendo ficado em cima da mesa um aumento de capital no grupo, para compensar.
Além do ex-presidente do Grupo Águas de Portugal, na quinta-feira serão ouvidos o presidente da NAV Portugal, Pedro Ângelo, e a presidente da Imprensa Nacional Casa da Moeda, Dora Moita.
Estas audições foram pedidas pelo CDS-PP, tendo em conta os dividendos extraídos destas empresas públicas e o seu impacto na redução da dívida pública, um tema que consta da análise feita pela UTAO (Unidade Técnica de Apoio Orçamental).
Num relatório sobre condições dos mercados, dívida pública e dívida externa até março, divulgada em 10 de abril, a UTAO considera que o acréscimo substancial dos fatores de consolidação da dívida pública em 2023 resulta dos excedentes orçamentais e da "busca deliberada de aplicações em títulos", indicando que este acréscimo de aplicações de unidades orgânicas em instrumentos de dívida resultará em alguns casos "de meras opções de gestão", havendo também casos em que "as opções de gestão financeira foram condicionadas por orientações do Governo".
O documento do organismo liderado por Rui Baleiras classifica a redução da dívida pública como "artificial".
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