Na carta de despedida aos colaboradores, a que Lusa hoje acesso, a gestão recorda que a assembleia-geral realizada em maio passado, por ocasião da aprovação das contas por parte dos acionistas presentes, recebeu, "mais uma vez, um voto de confiança por proposta da Parpública, tal como aliás nos anos anteriores".
Ora, "estes votos de confiança da entidade representante do Estado contrastam, no entanto, com a falta de apoio ao longo destes anos na viabilização da restruturação da dívida" e "contrastam ainda com a postura recente por parte da Parpública, que, apesar de conversas em curso há meses, só na fase final revelou a existência de uma instrução vinculante do secretário de Estado do anterior Governo, que proibia qualquer aporte financeiro à Inapa", elenca a Comissão Executiva.
E "contrastam finalmente com a falta de um apoio meramente temporário numa situação de falência iminente, totalmente evitável", considera o órgão.
A Comissão Executiva da Inapa refere que, recentemente, solicitou aos acionistas qualificados - Parpública, Nova Expressão e Novo Banco - "um empréstimo de curto prazo no valor de 12 milhões de euros, a ser integralmente reembolsado até outubro de 2024".
Esta necessidade, "pontual na altura do verão devido à sazonalidade do negócio do papel que todos conhecemos, foi particularmente agravada num contexto de crescente diminuição dos limites de crédito por parte dos nossos fornecedores de papel, com impacto na nossa capacidade comercial", argumenta.
Aliás, "esta solução de curto prazo, que foi apresentada aos acionistas de referência, mereceu o apoio expresso dos acionistas privados Novo Banco e Nova Expressão, que destacamos e agradecemos".
Mas "infelizmente, e mais uma vez, faltou o apoio da Parpública para a concretização de uma solução equitativa já suportada pelos acionistas privados, que teria evitado a insolvência na Alemanha e o contágio imediato e inevitável à Inapa IPG e a todo o grupo", lamenta a Comissão Executiva, que esclarece que "nunca esteve em causa um apoio de 12 milhões de euros por parte da Parpública, mas sim um financiamento de 8,4 milhões de euros, proporcional à sua participação no capital" da empresa.
"Tratava-se de um empréstimo de curto prazo, a três meses, e remunerado a uma taxa de juro de mercado", reforça.
E "também ao contrário do que tem sido dito, o reembolso deste empréstimo de curto prazo estava garantido por fontes alternativas de financiamento, suportadas nomeadamente por propostas de aquisição de empresas do nosso portfolio em diferentes geografias, acionáveis no quarto trimestre de 2024, o que foi comunicado e explicado detalhadamente à Parpública", prossegue.
Aliás, "foi amplamente partilhado com a Parpública que, atendendo às estritas regras de declaração de insolvência na Alemanha, a inexistência do apoio de tesouraria solicitado resultaria na insolvência da Inapa Deutschland e, por contágio, do grupo Inapa, um dos principais distribuidores de papel na Europa, com centro de decisão em Portugal, e com mais de 1.000 milhões de euros de faturação".
Além disso, a "Parpública foi também alertada para o facto de a insolvência súbita, mas evitável, da Inapa impactar diretamente 1.400 trabalhadores, dos quais mais de 200 em Portugal, bem como inviabilizar a operação de aquisição da Inapa por parte do grupo mundial de distribuição de papel, em discussão".
A Comissão Executiva, agora de saída, aponta que a "inevitável insolvência do grupo em resultado da falta de apoio da Parpública foi repetida e detalhadamente explicada ao maior acionista da Inapa que, detendo 45% da empresa, afetou 100% dos acionistas e a totalidade dos trabalhadores com a sua decisão".
O valor do grupo Inapa "agora em insolvência será sempre inferior ao valor que tinha antes, sem falar nos postos de trabalho, nos parceiros e demais 'stakeholders', destruição de valor massiva facilmente evitável", adverte o órgão, que ao longo da missiva responsabiliza a Parpública pela situação da empresa.
"Tendo a decisão da Parpública sido tomada com plena consciência das consequências, o Conselho de Administração e a Comissão Executiva entenderam unanimemente não existirem condições para se manterem nas funções para as quais foram eleitos, sob proposta da própria Parpública, não restando alternativa senão a apresentação da sua renúncia", explica.
E remata: "Mesmo no contexto muito difícil da insolvência da Inapa IPG e imediato contágio a restantes empresas do grupo, assegurámos o cumprimento das nossas responsabilidades junto dos trabalhadores e Estado com o pagamento dos salários e impostos até à nossa saída".
Manifestando-se "profundamente gratos" pelo empenho e dedicação dos colaboradores, "em particular durante este período difícil", a Comissão Executiva termina a carta com votos de "boa sorte para o futuro".
O grupo Inapa foi fundado em 1965 e tem como principal acionista a empresa pública Parpública, com 44,89%, enquanto a Nova Expressão tem 10,85% e o Novo Banco 6,55%. O restante capital está disperso.
Em 2023, a distribuidora de papel registou prejuízos de oito milhões de euros, contra lucros de 17,8 milhões de euros em 2022.
No período em análise, as vendas recuaram 20% para 968,7 milhões de euros, num contexto em que na Europa Ocidental a procura de papel caiu 25%, segundo a Inapa.
O resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações (EBITDA) recorrente baixou 62% para 33 milhões de euros, afetado pela contração das receitas.
A dívida líquida diminuiu 14,4 milhões de euros face a 2022 para 206,7 milhões de euros.
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