"Os pagamentos de dívida dos países de baixo rendimento triplicaram na última década, de acordo com os nossos cálculos, que mostram que os pagamentos de dívida externa em 2024 estavam no nível mais elevado desde 1994, e deverão continuar assim em 2025, e até aumentar se o dólar continuar a valorizar-se durante o novo governo de Donald Trump", lê-se no relatório enviado à Lusa.
Os cálculos desta ONG que se dedica a analisar as implicações da dívida para os países em desenvolvimento, nomeadamente os de baixo rendimento, como é o caso dos lusófonos africanos Guiné-Bissau e de Moçambique, mostram que o peso da dívida nas finanças públicas destes países é cada vez mais insustentável.
"Os elevados pagamentos da dívida estão a impedir os governos de financiarem a despesa pública para reduzir a pobreza e lidar com a emergência climática; o governo do Reino Unido [onde estão sediados muitos contratos com investidores internacionais] precisa de passar das palavras à ação em 2025, defendendo um efetivo cancelamento da dívida e aprovando legislação para garantir que os investidores privados participam no alívio da dívida", comentou o diretor de políticas nesta ONG, Tim Jones, citado no texto.
Os cálculos da Debt Justice abarcam 84 países, entre os quais estão todos os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), e permitem concluir, apesar de não especificarem o valor da dívida pública, que entre 2020 e 2025 quase 40% da dívida total foi paga a credores privados.
A isso acresce 34% para credores multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional, 13% a instituições públicas e privadas chinesas e, finalmente, 14% a outros governos, para pagar empréstimos bilaterais.
Na lista dos países que mais receitas fiscais canalizam para pagar a dívida, Angola está no topo, usando cerca de dois terços da receita de 2024 e de 2025 para suportar os encargos com a dívida, revela ainda no relatório.
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