"Não queremos a delegada provincial Abiba Aba, ela deve sair e deixar a delegação porque é muito arrogante, não quer trabalhar em coordenação connosco, os antigos combatentes e que lutaram pela democracia. Ela e o nosso presidente Ossufo Momade devem-se retirar. Já fechámos a delegação", afirmou Carolina Yahaia, ex-guerrilheira da Renamo, em declarações à Lusa, durante o protesto.
Em causa está a contestação à liderança de Ossufo Momade, presidente do partido, sobretudo após os resultados eleitorais de 09 de outubro passado, em que a Renamo conquistou 28 assentos no parlamento moçambicano, perdendo estatuto de segunda maior força política para o partido Povo Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), que somou 43 representantes no parlamento.
A Renamo anunciou em 26 de fevereiro o adiamento do Conselho Nacional previsto para 07 e 08 de março, sem avançar nova data para a reunião que devia analisar a situação política do país e do partido, conforme avançou o seu porta-voz Marcial Macome.
Esta reunião era uma das exigências de vários membros e antigos guerrilheiros da Renamo, que nos últimos meses se manifestaram junto aos edifícios do partido em todo o país exigindo a saída de Ossufo Momade da liderança do partido, que até às eleições gerais de 09 de outubro era o maior da oposição.
O encerramento da delegação em Nampula, explicaram fontes no local, visa pressionar os atuais dirigentes do partido a abandonarem os seus cargos dentro da formação.
"Depois da perda do nosso presidente Afonso Dhlakama, estamos a engolir sapos, desde que entrou a liderança de Ossufo Momade começou a dividir-nos, quem tivesse uma ideia do general Dhlakama era censurado e retirado na linhagem de ser membro do partido", declarou Ernesto Douglas, outro ex-guerrilheiro.
Segundo a fonte, ao encerrar as portas da delegação provincial, os antigos guerrilheiros querem pressionar Ossufo Momade a manter um diálogo com as bases do seu partido.
"O Dhlakama reunia com seus desmobilizados, mas com a entrada de Ossufo Momade fomos descartados. Enganaram-nos que seríamos desmobilizados no processo de Desmilitarização, Desarmamento e Reintegração (DDR), diziam que teríamos direito de construir nossas casas, de termos pequenos projetos e alguns iriam ao Ministério do Interior, mas isso não aconteceu", afirmou Ernesto Douglas.
Os ex-guerrilheiros da Renamo disseram ainda que solicitaram uma audiência com a delegada provincial do partido para expor suas reclamações, entretanto, sem sucesso.
Em reação, o porta-voz do partido na província, Nelson Carvalho, disse à Lusa que o encerramento das portas da delegação foi uma iniciativa dos seus membros com o objetivo de "evitar confrontos".
"Quando nos apercebemos dessa situação, acabámos por trancar a nossa delegação, não foram eles a trancarem, tudo isso para evitarmos confrontos entre os membros, por isso é que essa conferência está a decorrer aqui na delegação da cidade, para que não haja confrontos", disse o responsável.
O líder da Renamo também foi candidato nas eleições gerais de 09 de outubro ao cargo de Presidente da República, obtendo 5,81% dos votos, o pior resultado de um candidato apoiado pelo partido.
Ossufo Momade, cuja liderança já tinha sido questionada em momentos anteriores, assumiu a presidência da Renamo após a morte do líder histórico e fundador do partido Afonso Dhlakama (1953--2018).
Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), foi eleito e tomou posse como quinto Presidente da República de Moçambique em 15 de janeiro.
Moçambique viveu uma guerra civil de 16 anos opondo o exército governamental e a Renamo, que terminou com a assinatura do Acordo Geral de Paz, em Roma, em 1992, entre o então Presidente Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, líder histórico da Renamo, abrindo-se, assim, espaço para as primeiras eleições, dois anos depois.
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