A presidente do Sindicato Têxtil da Beira Interior (STBI), Marisa Tavares, lamentou que as negociações entre a Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores Têxteis, Lanifícios, Vestuário, Calçado e Peles de Portugal (FESETE) e a Associação Nacional dos Industriais de Lanifícios (ANIL) tenham sido interrompidas sem se chegar a qualquer acordo.
"Não houve negociações connosco. Eles apresentaram uma proposta, nós fizemos uma contraproposta e eles nem sequer quiseram discutir essa contraproposta e encerraram as negociações", censurou, em declarações à agência Lusa, Marisa Tavares, na concentração de hoje em frente à fábrica de lanifícios Paulo de Oliveira, que juntou cerca de 80 pessoas.
A dirigente explicou que, numa fase inicial, foram propostos um aumento salarial de 50 euros para todos os trabalhadores e um aumento para seis euros do subsídio de alimentação, atualmente em 2,65 euros, com os 15 cêntimos aplicados este ano.
Marisa Tavares acrescentou que, depois de se ter discutido com os trabalhadores sobre o impasse, foi feita uma nova proposta, "em que foram reduzidos substancialmente os valores, quer na tabela, quer no subsídio de alimentação".
A sindicalista disse que lhes foi sugerido que o subsídio de alimentação fosse negociado para os próximos três anos e que a proposta apresentada previa um aumento para os 3,5 euros este ano, para os quatro euros em 2026, cinco euros em 2027 e seis euros no ano seguinte.
"Era uma forma de, pouco a pouco, chegarmos ao valor. Eles nem sequer mostraram abertura para discutir isso. Simplesmente arrumaram as coisas e disseram que não negociavam", criticou Marisa Tavares.
Segundo a responsável, nas fábricas do ramo têxtil e lar "quase todas" pagam acima dos 2,65 euros, mas, em grande parte das empresas de lanifícios, as tentativas de negociar individualmente com as empresas saem goradas, por "seguirem orientações da ANIL".
A FESETE invocou a "robustez" do Grupo Paulo de Oliveira, com três fábricas e mais de mil trabalhadores na Covilhã, distrito de Castelo Branco, frisou que este "controla parte importante do emprego e da economia na região" e acentuou as "margens elevadas de lucros nos seus negócios, na ordem dos 12 milhões de euros em 2023", enquanto os empregados recebem 870 euros, "muito próximo do Salário Mínimo Nacional".
"O Grupo Paulo de Oliveira tem tido lucros bastante satisfatórios ao longo dos últimos anos para satisfazer as necessidades e as reivindicações dos trabalhadores", argumentou a presidente do STBI, que considerou estar-se a dar "um mau exemplo" num setor onde se queixam de falta de mão-de-obra.
O presidente da ANIL, José Robalo, disse à Lusa que as organizações sindicais "falam dos resultados das empresas, mas esquecem-se dos investimentos brutais que têm feito, porque se não os fizessem tinham de fechar".
José Robalo aludiu à "conjuntura internacional" para afirmar que "é necessário ter muita cautela e bom senso nestas coisas".
"Como é que estaremos daqui a um ano? Não estaremos numa guerra? Como é que podemos estar a negociar coisas a dois e a três anos?", respondeu.
O presidente da ANIL disse que as negociações não foram avante porque as empresas não podiam aceitar as condições e acrescentou que foi assinado um acordo com outra central sindical.
"Não é aceitável a UGT assinar um contrato para trabalhadores que não representa, e nem sequer é discutido com os trabalhadores aquilo que eles assinaram", acentuou Marisa Tavares.
Segundo a dirigente, os trabalhadores estão disponíveis para o diálogo, para "continuarem a lutar" e vão apresentar um caderno reivindicativo.
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