Numa semana em que ficou conhecido o relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) sobre Portugal, no qual faz um ponto de situação da economia portuguesa e deixa algumas recomendações, Álvaro Santos Pereira assegura que a instituição para a qual trabalha “não tem uma visão sombria sobre a situação portuguesa”.
O antigo ministro da Economia diz que quando Portugal sair do procedimento por défice excessivo será uma “vitória” e um “mérito que pertence aos portugueses que mostra que, independentemente da cor governativa, a preocupação é baixar o défice e a dívida”.
No entanto, o professor universitário relembra que há fatores externos que podem prejudicar Portugal neste caminho de recuperação, como é o caso dos “ventos protecionistas” que chegam de alguns países e a situação da banca europeia – com foco em Itália.
Do ponto de vista interno, sublinha, a preocupação prende-se com o facto de a “dívida pública e privada continuarem bastante elevadas” e o sistema financeiro não estar consolidado.
Debruçando-se sobre a questão da banca portuguesa, Álvaro Santos Pereira não tem dúvidas em afirmar que nos anos que antecederam o resgate financeiro a Portugal foram cometidas “irresponsabilidades tremendas, abusos tremendos ao nível de negócios que não deviam ter acontecido, como concessão de crédito que não devia ter acontecido, investimento público que não devia ter acontecido, rendas de energia absolutamente ruinosas e outros contratos em que houve compadrio entre o sistema político e vários grupos económicos”.
Tudo isto que “não devia ter acontecido” deu origem, sublinhou, a um “legado de dívida pública e privada que tem gerado imparidades na banca”.
Mas pior. Álvaro Santos Pereira é perentório e afirma: “Houve fraude na banca portuguesa e é importante responsabilizar criminalmente quem cometeu fraude”.
Quanto ao rating de Portugal, que continua no nível BB+, o ex-ministro da Economia não tem dúvidas de que o país “já merecia estar num rating superior” e que tal acontecerá se “Portugal continuar a reformar e a ter uma política fiscal responsável e prudente”.
Por fim, debruçando-se sobre a questão da dívida portuguesa, Santos Pereira garante que “politicamente não há outra solução que não seja pagar”. “Não tenho dúvidas de que a dívida tem de ser paga até ao último cêntimo, porque se não o fizermos, as consequências para o nosso país vão ser extremamente gravosas”, rematou.
