O presidente do BCE, Mario Draghi, disse que seria no encontro de outubro que o banco decidiria a continuação ou não do programa de compra de dívida pública e privada, que mantém há dois anos e meio e ao qual muitos atribuem boa parte da recuperação económica da zona euro.
O conselho de governadores - composto pelos governadores dos bancos centrais dos 19 países da zona euro e os seis membros do comité executivo da entidade - já debateu, no encontro de setembro, as diferentes alternativas relacionadas com o "ritmo e a duração" do programa de compras no próximo ano.
Até ao final deste ano, o valor das compras mantém-se em 60.000 milhões de euros por mês, ao qual se juntarão os 2,28 biliões de euros que o BCE terá comprado desde o início do programa em março de 2015.
O economista do Banco Carregosa, Rui Bárbara, considera, em declarações à Lusa, ser "muito cedo" para alterações às taxas de juro diretoras.
"Estimamos que as mexidas nas taxas de juro só deverão ocorrer no final de 2018, ou mesmo em 2019. A não ser que haja algum fator surpresa que altere a atual conjuntura", referiu.
As novidades para quinta-feira do BCE deverão ser, segundo o economista, sobre os montantes e prazos do programa de compra de ativos que o BCE tem levado a cabo para ajudar as economias.
"Podemos estar a falar de uma redução no montante da ajuda mensal do BCE, que neste momento compra 60 mil milhões de euros de ativos por mês", disse.
Poderão ainda surgir novidades quanto ao calendário da retirada desse programa de ajuda (o 'Quantitative Easing'), com as compras atuais de 60 milhões de euros a acabarem em novembro.
"O BCE dirá o que pretende fazer a seguir. Com a resposta a essa questão ficaremos a saber se a retirada de estímulos vai ser mais lenta e progressiva ou mais rápida e abrupta. Tudo o que seja reduzir as compras mensais para menos de 40 mil milhões de euros é uma redução agressiva da ajuda", sinalizou.
O gestor da corretora XTB, Eduardo Silva, disse que a expectativa em torno da reunião de política monetária do BCE é "total": "Mario Draghi deverá anunciar uma redução do programa de compra de ativos, mas o valor do corte e a data do fim do programa divide os analistas".
O governador, segundo o especialista, tem realçado o impacto da política monetária, mas diz que a economia vai continuar a precisar de estímulos por algum tempo e, "nas entrelinhas, já referiu também que isso é determinante para que os ajustes da inflação sejam sustentados" ao mesmo tempo que defende "que um ajuste monetário deve sempre ser gradual".
"O consenso aponta para um corte de 30 mil milhões por mês já a partir de janeiro, no entanto alguns analistas sugerem que o banco central poderá ir mais longe e cortar mais de metade do valor atual, por forma a prolongar o programa por 9 ou mais meses, cenário que permitiria deixar para 2019 possíveis aumentos da taxa de juro, consoante a evolução da economia", referiu o gestor da XTB.
Eduardo Silva lembrou ainda que Draghi salientou na última reunião de política monetária que a inflação está longe do objetivo do banco central e, num segundo momento, mostrou-se preocupado com os valores da moeda.
"Desde a última reunião o euro corrigiu marginalmente, mas a inflação continua a ser uma preocupação, fator que deverá obrigar a que o programa seja prolongado, mesmo que o valor de compras seja reduzido", disse.
O gestor referiu ainda que a política monetária expansionista do BCE está a ter repercussões fortes no crescimento do emprego e inflação e que, de uma forma secundária, teve ainda consequências no investimento, nos juros da dívida, no sentimento "e, principalmente, está finalmente a servir de catalisador da economia europeia".
"A dificuldade na gestão das expectativas reside em fazer um balanço entre traçar um cenário positivo sem que se anuncie uma inversão na política do BCE. Nos EUA e no Reino Unido, onde os programas foram bem-sucedidos, ambos os países resistiram a anunciar o fim precipitado do programa, o bom senso recomenda que se siga uma postura similar. As pressões são evidentes e públicas", concluiu.
Também para Franck Dixmier, Global Head of Fixed Income e Chief Investment Officer Fixed Income Europe, Allianz Global Investors (AllianzGI), "as estrelas estão alinhadas para o BCE iniciar o 'tapering'(redução do programa de compras)".
Apesar de esperar que o BCE comece finalmente a reverter o seu programa de compras, Franck Dixmier defende que o banco central vai manter a flexibilidade para tranquilizar mercados sensíveis."
"O BCE sabe que os mercados vão ser sensíveis ao 'tapering' e, assim, esperamos um tom 'dovish' (conciliador) que possa assegurar máxima flexibilidade", defende Dixmier.
Para Franck Dixmier, diversos fatores sustentam a redução do programa de estímulos pelo BCE, designadamente o crescimento económico ser robusto, a confiança estar em alta e a inflação estar acima de 1%.
Contudo, o responsável da AllianzGI sublinha que o impacto da redução ('tapering') não vai ser neutral porque "o BCE comprou até agora bastante mais obrigações de dívida pública líquidas do que a Reserva Federal dos Estados Unidos (Fed) em qualquer momento".