O Instagram tem sido o meio usado por Katerina, mulher de Paulo Fonseca, para se manifestar sobre a guerra na Ucrânia.
Desde que a Rússia invadiu o seu país natal que tem partilhado vários desabafos, como aconteceu este fim de semana.
Numa longa emotiva mensagem, Katerina recorda que deixou a Ucrânia há alguns dias, mas "apenas fisicamente". Toda a sua "dor e desespero" permanecem vivos por todos os que continuam no seu país natal.
"A cada minuto afogo-me na dor humana: idosos indefesos sem comida, mulheres em trabalho de parto em hospitais bombardeados, gritos de socorro daqueles que lá ficaram", relatou, confessando que "todos os dias" fica em "lágrimas".
"Gritamos em todos os ecrãs de televisão, redes sociais e capas de jornais no mundo. Mas as pessoas na Rússia ouvem os nosso clamor? Eles perguntam por que o governo excluiu as informações do mundo inteiro, bloqueando-os das redes sociais, rádios, imprensa internacional e oferecendo apenas as suas mentiras infinitamente selvagens em troca?", questionou.
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"Há alguns dias deixei a Ucrânia. Mas apenas fisicamente. Todo o meu desespero e dor transbordam para tentar ajudar aqueles que lá permaneceram. A cada minuto afogo-me na dor humana: idosos indefesos sem comida, mães a dar à luz em hospitais bombardeados, os subúrbios de Kiev varridos da face da terra e gritos de socorro daqueles que ficaram lá.
Todos os dias transformo-me em pedra de infortúnio e lágrimas. Eu e os milhões de ucranianos que hoje estão a ser mortos por soldados russos.
Gritamos em todos os ecrãs de televisão, nas redes sociais e nas capas de jornais ao redor do Mundo. Mas as pessoas na Rússia ouvem o nosso clamor? Eles perguntam por que o governo excluiu as informações do mundo inteiro, bloqueando-os das redes sociais, rádios, imprensa internacional e oferecendo apenas as suas mentiras infinitamente selvagens em troca?
Não importa o quanto eles mentem sobre a 'operação especial' na Ucrânia e os 'ataques pontuais' contra alvos militares; por mais que mintam e vos digam que somos fascistas, o que significa que precisamos e podemos ser mortos; não importa o quanto eles mentem e vos digam que os seus soldados não são assassinos, mas 'salvadores'... Não importa o quanto eles mentem e vocês mintam para vocês mesmos, o mundo inteiro sabe e vê o quão louco o presidente Putin e seus fantoches são. Começaram e estão a travar uma guerra sangrenta no centro da Europa.
Começou, não terminou. Porque em 2014 já tinha fugido da minha casa, em Donetsk, dos militantes russos. Fugi do terror e do roubo. Eu, centenas de amigos e conhecidos, milhares de moradores do Donbass fugimos de Donetsk capturado, assim como hoje centenas de milhares de pessoas estão a fugir de todos os cantos da Ucrânia de invasores e assassinos. Que durante oito anos 'ficaram mais arrojados', passando para tanques e finalmente levando nas mãos a sua bandeira - a bandeira do país que iniciou esta guerra há oito anos e que continua até hoje.
Na altura o mundo perdoou a Rússia, a Crimeia. O Donbass perdoou a Rússia, como antes perdoou parte da Moldávia e perdoou parte da Geórgia. Em 2014, o mundo novamente não disse a sua palavra, permitindo que a Rússia voltasse a ocupar descaradamente territórios estrangeiros, fugindo com a palhaçada e a farsa, com 'referendos'. Eu perdoei, mas não vou perdoar agora".
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