Cláudia Vieira é atriz, apresentadora, mãe, filha, companheira... e na lista de todos os papéis que consegue arranjar tempo para desempenhar, há agora um novo. A área não é totalmente nova para Cláudia, embora o projeto em si o seja. É na moda que vai dar o próximo passo, pormenores que contou numa entrevista ao Fama ao Minuto.
OBSIDIAN é a nova marca de roupa 100% portuguesa que esta quarta-feira, dia 13 de outubro, chega finalmente ao mercado, isto depois de ter estado a 'fermentar' durante mais de dois anos e meio. O tempo permitiu criar uma linha bem definida, um conceito muito próprio e nenhum detalhe escapou no processo de 'brainstorming'.
Ao lado de Cláudia Vieira estão outras duas mulheres - e amigas. O género feminino é um dos primeiros pormenores que salta à vista quando se fala da OBSIDIAN e, tal como tudo o resto, também isto não é por acaso. Gabriela Pinheiro e Raquel Vasconcelos acompanham a atriz nesta aventura sobre a qual nos falaram.
Esta marca surge precisamente de mulheres para mulheres, com o objetivo de oferecer peças únicas
Este é apresentado como um projeto muito especial para as três. O que vos leva a vê-lo dessa forma?
Cláudia Vieira: Eu e a Gabriela já falávamos desta possibilidade, ideia e vontade, até pelo nosso excesso de contacto com roupas no dia a dia. A Gabriela já é a minha stylist há uns bons anos (cerca de 13). Este nosso trabalho levou a que surgisse uma amizade e daí surgiu a vontade de termos outros projetos. Termos uma marca foi, por exemplo, uma das coisas que foi sendo falada. Tudo começou a ganhar forma há uns anos, por volta de 2019. Pensámos 'está na hora de arregaçar as mangas e de lançarmos a nossa marca'. Pensámos no que fazia sentido, e [concluímos] que queríamos lançar uma marca de roupa, que é a área em específico da 'Gabi', mas ao mesmo tempo faz sentido que seja uma marca de roupa que ofereça algo de novo ao mercado, às mulheres.
Esta marca surge precisamente de mulheres para mulheres, com o objetivo de oferecer peças únicas, que as mulheres não vão correr o risco de se cruzar com muitas, porque vamos fazer um número limitado de cada modelo. Começa por ser lançada uma coleção cápsula, daqui a uns tempos outra coleção cápsula e assim sucessivamente, de maneira a que as coleções tenham sempre a ver umas com as outras e que as mulheres possam fazer um cruzamento com as peças que já adquiriram.
A premissa principal da marca é que seja o mais sustentável possível e corremos atrás disso. Trouxe-nos algumas angústias, alguns contratempos, porque nem sempre os materiais estão disponíveis, nem sempre é tão fácil o processo como queríamos. Mesmo ao nível da produção, tentamos que sejam os métodos mais certificados e que possam ser o mais sustentáveis possíveis. Não sendo 100% sustentável, porque isso é quase impossível, mas cada vez mais o mercado oferece soluções e nós fomos ao encontro delas.
Percebe-se que este projeto tem várias ideias presentes, tais como a sustentabilidade e o facto de ser feita para mulheres. Quando pensaram inicialmente na marca definiram, desde logo, que ela teria todas estas preocupações?
CV: Acho que foi ganhando essa estrutura, essa forma. Haviam, desde logo, algumas intenções. Para mim não fazia qualquer sentido criar uma marca que não tivesse a premissa da sustentabilidade porque tenho isso no meu dia a dia, no meu modo de vida, eu, a Gabi e nós não estamos sozinhas nisto. Temos uma terceira sócia, a Raquel Vasconcelos, porque sentimos a necessidade de ter uma terceira pessoa que 'vestisse a camisola' de igual modo e que não fosse alguém contratado, que tivesse mais disponibilidade e o 'know how' necessário. A Gabriela tem um conhecimento gigante sobre roupas, eu também tenho mas sou mais a visão da consumidora. A Raquel entra num lado mais comercial, mais estratégico, relacionado com marketing e com uma noção sobre aquilo que o mercado precisa.
A mensagem que queremos passar é um bocadinho extensa e complexa porque nós, mulheres, também o somos
Para garantir a sustentabilidade, que estratégias vão assumir?
CV: Vamos ter coleções pequenas, até para evitar o desperdício e ficarem peças em stock. A produção será um número limitado de cada peça. A primeira coleção é composta por nove modelos.
O nome é, também ele, arrojado. Como surgiu?
Gabriela Pinheiro: Estes pontos todos que tocamos vão ao encontro do nome: OBSIDIAN. Queremos refletir a personalidade da mulher, porque nós estamos cheias de personalidade. Este nome surgiu por ter bastante energia. Vem de uma rocha vulcânica que é muito intensa e muito frágil ao mesmo tempo e nós, mulheres, somos assim. Queremos o empoderamento da mulher e pretendemos que a marca espelhe o que as mulheres são. Temos peças que são mais neutras, peças que são mais coloridas, peças para os dias em que queremos arriscar. Peças para várias ocasiões, para vários tipos de corpos e para vários tipos de personalidades. A mensagem que queremos passar é um bocadinho extensa e complexa porque nós, mulheres, também o somos.
Mesmo tendo criado uma marca para mulheres, quiseram garantir que há peças para todos os tipos de corpos. Como conseguiram fazê-lo?
CV: Testámos com estaturas diferentes, com pessoas mais magras, pessoas mais fortes, para ver como a peça caía, porque esse também era um dos grandes objetivos. Fiz sempre a prova das peças mas as nossas peças não são, de todo, para mulheres que tenham um corpo parecido com o meu ou com o da Gabriela.
GP: Sim, não existem mulheres perfeitas, não existem corpos iguais. Também queremos fazer esse acompanhamento nas nossas redes sociais, tentando mostrar mulheres reais e dando essas dicas de styling.
A demora do lançamento também teve a ver com a pandemia mas, acima de tudo, com a nossa busca por soluções que sejam o mais sustentáveis possível
As imagens de divulgação da marca mostram uma grande ousadia. A marca também terá essa preocupação?
GP: Sim, é uma marca ousada. As mulheres que já são ousadas, ótimo, as que ainda não são vão ter os seus momentos de ousadia porque vão gostar de usar as nossas peças.
CV: Queremos influenciar as mulheres a terem mais atitude, mais autoconhecimento, a arriscarem mais, porque é muito fácil mantermo-nos no padrão que sabemos que funciona e nem toda a gente tem uma stylist na sua vida. Daí a importância de surgir uma marca que dá dicas de como se podem vestir as peças, de como se pode rasgar o conceito de 'estar bem vestido'.
A marca é uma ideia que começa a ser pensada em 2019. Por que razão só agora, em 2022, é que podemos assistir ao seu lançamento? Terá a ver, por exemplo, com o facto de a Cláudia ter terminado recentemente de gravar uma novela e se encontre, por isso mesmo, mais livre para outros projetos?
CV: As nossas vidas são realmente muito preenchidas e ocupadas. Este é um projeto paralelo às nossas vidas profissionais e nenhuma de nós quer abandonar os outros desafios. A demora do lançamento também teve a ver com a pandemia, sem dúvida alguma mas, acima de tudo, com a nossa busca por soluções que sejam o mais sustentáveis possível.
GP: Nós estamos a fazer tudo contra o desperdício. Os botões, por exemplo, foram substituídos por uns de madeira, esquecendo o plástico, porque é mais importante mantermos a nossa premissa. Este compromisso é feito connosco próprias. Nem que isso demore mais tempo.
CV: E também temos outro grande objetivo, que é o de consciencializar as pessoas. Ao surgir mais uma marca no mercado que tem a sustentabilidade como premissa principal, vai provocar que as mulheres que consomem determinadas peças e que nunca se preocuparam com a constituição das mesmas talvez passem a olhar para isso com outra atenção.
Já definiram qual o período entre uma coleção cápsula e a próxima?
CV: Nunca vai ter um período certo, vivemos como vocês: ao minuto! [gargalhadas].
GP: Vamo-nos adaptando ao mercado. O caminho foi longo e importante. Nós não estamos presas aos 'timings' precisamente para conseguirmos ter a liberdade de dizer 'esta coleção está conforme gostaríamos que fosse, de acordo com os nossos padrões de excelência, e está na hora de sair'. Com esta marca 100% portuguesa também queremos dizer que, tal como outras que fazem um papel excelente, é possível continuar na moda com estas peças.
CV: Também foi importante conhecer as pessoas que as produzem. Nós visitámos a fábrica, tivemos contacto com as pessoas e tudo isso torna as coisas ainda mais especiais. Óbvio que queremos vender e que seja um sucesso, mas queremos fazê-lo de uma forma muito consciente. O têxtil em Portugal tem uma força gigante. Queremos que continue a ter, mas de uma forma cada vez mais consciente.
A marca será lançada no Portugal Fashion, e será como ter o 'carimbo' de um evento de moda portuguêsSendo que as produções vão ter dimensões reduzidas, o cliente poderá esperar um serviço personalizado?
GP: As pessoas, muitas vezes, nem chegam a ler as etiquetas ou não conseguem olhar para a etiqueta e ver o que aquilo significa. Cada peça estará identificada com o tecido com que foi produzida, quase como um bilhete de identidade, e com um cartão de manuseamento.
CV: Acho que as pessoas vão gostar de saber que estão vestidas da cabeça aos pés com, por exemplo, poliéster reciclado, e que estas peças são para durar.
Onde vamos poder encontrar as vossas peças?
CV: Vamos ter o nosso site e uma conta nas redes sociais. A nível físico - porque fazemos questão que as pessoas possam ter contacto com as peças, que lhes toquem e que as vistam - estaremos na Loja das Meias, tanto em Lisboa, nas Amoreiras, como em Matosinhos, no NorteShopping. Estaremos ainda na Just Ceuta, no Porto.
GP: Vamos dar uma pequena formação aos funcionários destas lojas para que eles possam ajudar as clientes e passar-lhes todo o conteúdo que está online.
CV: A marca será lançada no Portugal Fashion, e será como ter o 'carimbo' de um evento de moda português.
Embora este vosso conceito comece com uma marca de roupa, o universo da sustentabilidade é muito grande. Querem aumentar a marca e levá-la para outras dimensões?
CV: Como em tudo na vida, não queremos ficar limitados. Neste momento não temos nada pensado nesse sentido. É uma marca de vestuário feminino mas que pode ganhar outros caminhos, pode crescer a nível de acessórios, de vestuário para homens e crianças. Tudo é possível mas não está pensado que aconteça nos próximos tempos. Primeiro queremos que a marca se instale no mercado e queremos ganhar a credibilidade necessária.
GP: Ao lançarmos a marca vamos receber o feedback e vamos também conseguir fazer alguns ajustes. Queremos que as clientes OBSIDIAN sintam que estamos aqui para elas e que vamos tentar dar o nosso melhor para lhes oferecer o que mais desejam.
Estamos otimistas porque sentimos que estamos a dar algo novo, com muita qualidade e responsabilidade. Tem tudo para que seja um sucesso
A nossa confiança e satisfação em relação a este projeto é notória. Acreditam que, nesta altura em que tanto se fala de sustentabilidade, a marca poderá realmente agarrar o público?
CV: Como tudo o que é novidade e incerto, não sabemos como será este caminho. Estamos empolgadas porque sentimos que estamos a fazer tudo com muito brio profissional, muito respeito, com um lado patriota. Estamos otimistas porque sentimos que estamos a dar algo novo, com muita qualidade e responsabilidade. Tem tudo para que seja um sucesso.
GP: Estamos com muito cuidado em não dar passos maiores do que as pernas. Por sermos contra o desperdício, o lançamento não será megalómano. É forte, mas não vamos lançar uma coleção vasta com imensa roupa. O caminho será feito sem excessos.
E se o lançamento correr realmente muito bem e todas as peças forem vendidas, vão equacionar repetir a primeira coleção?
CV: Não, não vai ser reproduzida. O objetivo é que sejam peças limitadas. O número é mesmo reduzido.
GP: O padrão poderá ser reproduzido mas noutras peças, para que a pessoa sinta essa exclusividade.
Vamos poder esperar ver-vos como protagonistas das vossas coleções e nas sessões fotográficas de divulgação das mesmas?
CV: Não podia deixar que isso não acontecesse. A natureza também vai estar presente, o mar e as rochas, acima de tudo. A essência da marca é manter os pés bem assentes na terra, na areia, no mar... É ter uma consciência e um equilíbrio que são necessários para cada um de nós.
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